No início, discretamente, aquele esgoto
imenso a céu aberto se fez
oriundo de um cano estourado na esquina da rua
da miséria com a a avenida estupidez
Contaminava sem pudor os arredores
de um bairro imenso
tão afastado das chances, ignorado em consenso
Com o tempo, a vala foi ficando muito à vontade
Crescendo e aparecendo nessa comunidade
Já não incomodava quem morava por lá
Se o cheiro agradava, que outro cheiro cheirar?
Tudo que não era esgoto agora fedia
tudo que não era esgoto fedia
Inclusão salutar trouxe consigo
esse cheiro próprio
Negócio lucrativo comercializar a bosta feito ópio
Então o cocô exalava um bálsamo de primeira
Então a boa era feder de qualquer maneira
Então quase ninguém queria ser agulha no pardieiro
Então viva o borogodó do mulato inzoneiro
Se espalhou, dominou, tomou conta de todo o país
Na sarjeta imunda, orgulho entranhado
até criando raíz
Podridão difundida, patrimônio cultural
e quem não curtisse aquilo, era débil mental
Desde a mais tenra idade, crianças já brincavam
contentes
alimento mosquitos e vermes sorridentes
Uma parte da memória, tradição, costume
banhos demorados, estrume era o perfume
Tudo o que não era esgoto agora fedia
Tudo o que não era esgoto fedia