Negro de sorriso claro,
Como sinuelo de pampa,
Que sintetizas na estampa
Longínquas reminiscências;
Negro que lembras dolências
De alegrias e tristezas
Que andaram nas correntezas
Dos rios de muitas querências.
Essa cordeona que abraças
Com ciumenta intimidade,
Traduz - na sonoridade,
Quando teus dedos passeiam,
Madrugadas que clareiam,
Campos pelechando em flor,
Chinocas pedindo amor
E potros que corcoveiam.
E quando a cordeona espichas
Aberta - como prá um pialo,
E o verso sai - de a cavalo,
Sobre a cadência da nota,
Tua mirada remota
Se perde - coxilha acima,
Como quem busca uma rima
Sem saber de onde ela brota.
Tu sim - és poeta - e o mundo,
Prá ti - se torna pequeno.
E nem mil poetas - moreno,
Expoentes de Academia,
Campereando - noite e dia,
O vocabulário gasto
Podem dar cheiro de pasto
Como tu dás à poesia.
Negro de sorriso aberto
Como clarão de alvorada,
Abre essa gaita aporreada,
E canta - a mais não poder.
Canta negro - até morrer,
Com força de mil gargantas,
Pois cantando como cantas
Ninguém te iguala em saber.