Não suportando mais o peso da idade
Um pobre velho já cansado de sofrer,
Chamou seu filho e com lágrimas nos olhos
Disse prá ele, muito breve eu vou morrer
Deus me chama, vou partir prá eternidade,
Está chegando a minha hora derradeira
Filho querido, por lembrança de seu pai
Vou lhe deixar minha muleta de aroeira.
I
Porém o moço todo cheio de ironia
Disse ao velhinho com o gesto de homem mal,
Já que o senhor não vai deixar nenhum dinheiro
Prá que me serve este pedaço de pau,
Pois eu sou moço e preciso de riqueza
Para a vaidade das mulheres sustentar
E o senhor pode morrer bem sossegado
Sua muleta ninguém mais vai ocupar.
II
Um certo dia o castigo do destino
Sem esperar aquele moço recebeu,
Um acidente de automóvel na estrada
Uma das pernas para sempre ele perdeu,
Os seus amigos e as mulheres lhe deixaram
Sua vaidade para sempre se acabou
Por mãos de outros teve que voltar ainda
Prá mesma casa que um dia desprezou.
III
Chegando em casa descobriu que o velhinho
A este mundo já não pertencia mais,
Chorou de dor vendo a casa abandonada
Sentiu remorso do que fez ao pobre pai,
Hoje ele vive se arrastando pelas ruas
De porta em porta implorando a caridade
E a muleta que o velho pai deixou
É quem ajuda caminhar pela cidade.
IV