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Paraíso Carandiru

Império Z/O

Carandiru, aqui nem sempre o céu foi azul,
Pedras e dores, gritos e horrores,
Só quem viveu conheceu as dores,
Filhos e filhas, amigos, amores,
Só quem viveu conheceu as dores,
Templo Babilônico,
Foi arena dos gladiadores,
Você sabe o que é, é que testaram a fé,
Aquele na muralha mais um cidadão José,
Não, não, não, nem circo, nem flores,
Casa dos terrores,
Carandiru, hoje é o parque das flores,
Parque dos horrores.

Dia que não se esquece,
Vem na mente á milhão, como um jato, um teste,
Poderia ser um dia qualquer, não é, né?
Mas o bicho pegou, salve-se quem puder,
O apito soou, a sirene tocou,
Carandiru dias de terror,
Corre, corre, corre, corre vai nego,
O que que tá pegando, o que que tá acontecendo,
São as blitz dos PMs ou alguém ta morrendo,
O sangue está jorrando desse lado, veneno,
A cadeia é foda, vira a qualquer hora,
Uma palavra errada, pow, tá fora,
Todo mundo na neurose, viciado na nóia,
Traficante em ação,
Carandiru é um mundo louco a casa de detenção,
Bang, bang, bang fez um bandidão,
Do outro lado da grade com a metranca na mão,
Com a quebra generalizada,
Tumulto, atividade, barrigadas na gaiada,
Estiletes em punho, fogo no colchão,
Os polícias dominou a cadeia do ladrão,
Vou pra minha cela, deixa acontecer,
Com certeza nesse dia uma par vai morrer,
Um silêncio sinistro se faz,
Como um filme de terror que no final não tem paz,
Trava a mente, dá calafrio na espinha,
Justiça desse em vão é o choque que caminha,
O tumulto se formou dentro do pavilhão,
Aí tá no inferno começa a invasão,
Mortos alucinados é pura execução,
É o mundo louco, casa de detenção,
Dentro da minha cela, não é nada diferente,
A poucos segundos morte pela frente,
Se liga, se liga povão, se liga, se liga minha gente,
O chicote estrala, a chapa é quente,
Loucura eu lembro da família, começo á pensar,
No filho da companheira que nunca cansei de amar,
O amor supera o ódio que está ao redor,
Alicerce do ladrão pra segurar os BO,
Tantos projetos e sonhos pra viver,
Como eu poderia nesse dia morrer?
A porta abriu-se aos poucos,
Inicia o episódio louco,
Á frente, á frente a besta sorridente,
Metralhadora apontada atira em todos presentes,
Não dá tempo pra nada, caímos todos no chão,
Sinto o ferro quente atravessando o coração,
Minha vista ta embaçada sinto o sangue escorrer,
Eu sei que estou ferido, pressinto que vou morrer,
Não entendo as vozes em meio as discórdias,
Sinto o ferro quente, tiro de misericórdia.

Circo de horrores,
Casa do terror, dia de cão,
É um mundo louco, é o Carandiru,
É a Casa de Detenção.

Abalou todo o país o Carandiru,
O Crime não é creme, o sangue não é azul,
Tá tudo limpo, tudo belo,
111 deixou sangue sobre o verde-amarelo,
Abalando, Carandiru,
O crime não é creme, o sangue não é azul,
Ta tudo limpo, tudo belo,
111 deixou sangue sobre o verde-amarelo.

Dia 8 de Dezembro de 2002,
Eu retorno ao Carandiru agora com crachá,
Sou convidado pelas autoridades,
Pra ver o presídio terminar,
O Carandiru vai ser emplodido,
As autoridades e a elite vão comemorar,
O que eles menos sabem,
É que este inferno só vai mudar de lugar.

Composição: Mano Axé





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