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Biografia de Hélio Ziskind

Era uma segunda-feira, dia 6 de setembro de 1955, quando Hélio Celso Ziskind nasceu em São Paulo, no bairro de Pinheiros. Mais precisamente na Rua Teodoro Sampaio onde, até hoje, Seu David e Dona Chawa mantêm sua loja de presentes.

Cresceu ouvindo Robertos Carlos, Elis Regina, Jair Rodrigues e Miltinho. No radinho curtia os sucessos de Johnny Matis e Trini Lopez. Música infantil mesmo, não ouvia. Segundo ele a música infantil “não tinha essa ênfase tão grande como tem agora”. Criança, consumia aqueles disquinhos com historinhas, as músicas estavam lá, colorindo a história. Talvez aí tenha despertado seu jeito de “contar” músicas pra crianças. Sua infância foi tranqüila, filho único, nunca teve seu desejo de ouvir música contrariado. “Eu lembro que ninguém pedia pra eu desligar a vitrola, que ficava ligada o dia inteiro”. Os pais também gostavam de música. Seu David concorria na vitrola com o filho: Altemar Dutra x bossa nova. Sua brincadeira preferida era sair de bicicleta pela Teodoro, seguir até a USP ou explorar o bairro de Pinheiros. Mas já se sabia músico. Tocava violão e aos 7 anos ganhou uma medalha da professora pelo excelente desempenho ao entoar “Esqueça”, petardo da jovem-guarda gravado por Roberto Carlos.

Já em 1974, Hélio com 19 anos ingressou na Escola de Comunicação e Artes da USP para fazer o Curso de Composição no Departamento de Música. Na universidade, Hélio já se dedicou aos sopros e conheceu outros estudantes: Akira Ueno, baixista; Ciça Tuccori, pianista; Fábio Tagiaferri, violeiro; Gal Ópido, baterista; Geraldo Leite, cantor; Luiz Tatit, cantor e violonista; Ná Ozzetti, cantora; Pedro Mourão, cantor, violonista e percussionista, e Zé Carlos Ribeiro, também cantor e percussionista. Juntos formam o Grupo Rumo. Essa turma tornou-se um dos ícones da "vanguarda paulista" - ao lado de Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção -, inovando com arranjos que tem na voz um instrumento, as entoações da fala nas composições e a pesquisa musical.

Em 1978, pausa pruma festa. Casamento com Ana Maria Santana. Em 1981, o grupo lançou o primeiro disco independente, o Rumo que, mesmo sem grandes esquemas de distribuição, conseguiu ter 20 mil cópias vendidas, além de conquistar vários prêmios. Esse álbum é quase todo de músicas inéditas do grupo (duas são assinadas por Ziskind: “Um beijo” e “Satélite”). A última faixa, “Chequerê”, de Sinhô, já indicava a trilha do disco seguinte: Rumo aos antigos. Lançado também em 1981, Rumo aos antigos trazia releituras de Noel Rosa, Sinhô e Lamartine Babo, no qual Ziskind exerce seu trabalho de arranjador. 1982, a cegonha trouxe Carolina, sua primeira filha.

Em 1983, o Rumo lançou o disco Diletantismo, pela gravadora Continental em conjunto com o selo Lira Paulistana. Hélio não participou como compositor nessa bolacha. Nessa época já se dedicava ao seu próprio estúdio, recém-montado, e à produção de trilhas para TV, rádio, teatro e cinema. 1984, pausa pra mais um rebento, o filho Fernando.

Depois de uma ligeira experiência em uma grande gravadora, a Continental, o Rumo voltou a lançar um álbum independente, Caprichoso, de 1985. Mesmo ano em que Ziskind começou a trabalhar na TV Cultura de São Paulo como consultor musical e trilheiro, compondo para os telejornais da emissora e também para os programas infantis Glub-Glub, X-Tudo, Lá vem história e Rá-Tim-Bum, além de formatar as chamadas da emissora. No ano seguinte, 1986, realizou o Cabeça de músico, série de 8 programas produzidos para a Rádio Cultura FM de São Paulo, em que analisou a obra Música para 18 músicos, do compositor americano Steve Reich, revelando seu processo de composição.

1987 foi um ano movimentado para Ziskind. Pela Rádio Cultura produziu a transmissão de Einstein on the beach - ópera de Phillip Glass. Hélio traduziu trechos falados e reconstituiu trechos musicais durante a própria transmissão da ópera, além da análise dos procedimentos de composição de Phillip Glass. No mesmo ano, os discos Rumo e Rumo aos antigos são premiados pela APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte - como Melhor Grupo Vocal e Melhor Grupo Instrumental, respectivamente. Além do reconhecimento pelo trabalho coletivo com o Grupo Rumo, Ziskind também recebeu da APCA o prêmio de Melhor Trilha para Teatro, pela música original e adaptações de Debussy, Stravinsky, Tchaikovsky e Schumann para o espetáculo Nijinsky, de Naum Alves de Souza.

Em 1988, o Rumo voltou a lançar um trabalho em disco, desta vez o elogiado infantil Quero passear, que levou os prêmios Sharp de Música de melhor disco infantil e melhor canção infantil, por “A Noite no Castelo”, de autoria de Ziskind – aliás, a única que ele assina no álbum. No ano seguinte, chegou ao mercado a primeira coletânea do Grupo Rumo, O sumo do rumo, com 14 faixas dos discos anteriores. Nesse mesmo ano, Hélio Ziskind produzoi o CD que acompanha o livro O Som e o sentido, do compositor e professor da USP José Miguel Wisnik. O CD traz análises sonoras de exemplos significativos de 3 sistemas musicais: modal, tonal e dodecafônico. O Grupo Rumo segue realizando shows e Hélio trabalhando na TV Cultura como consultor musical e criador das trilhas institucionais da TV Cultura, aberturas para o Jornal da Cultura, Opinião Nacional, Roda Viva, Repórter Eco, Vitrine, Vestibulando, Nossa Língua Portuguesa. Além de ser alçado ao cargo de Consultor Pedagógico do programa Castelo Rá-Tim-Bum, na área de música.

Em 1992, o Rumo lançou Rumo ao vivo. O sucesso desse disco dá dois anos de fôlego para a banda realizar mais shows no Rio e em São Paulo. Em 1994 o Rumo encerrou oficalmente suas atividades com direito a show de despedida. Ainda em 94, Ziskind participou do premiado álbum Canções de ninar, produzido pelo selo Palavra Cantada, especializado em discos infantis. A música de sua autoria, “Sono de gibi”, é considerada a Melhor Canção Infantil pelo prêmio Sharp de 1995.

Finalmente em 1997, Hélio lançou seu primeiro disco-solo, Meu pé, meu querido pé, pela MCD. O álbum é uma compilação das canções criadas para os programas infantis da TV Cultura de São Paulo. Mesmo assim faturou o Prêmio Sharp de melhor CD infantil de 1998. Dois anos depois, em 2000, foi a vez de O gigante da floresta, 25 faixas de composições inéditas, todas assinadas por Ziskind.

Em 2001, encabeçou o projeto Lá vem pipoca, ao responder pela criação e direção do espetáculo, além de interpretar suas composições. O projeto contou com shows pela cidade de São Paulo e uma coleção de discos infantis. Nos espetáculos, cantores e músicos dividiam o palco com bonecos.

Em 2004, novamente pela MCD (agora MCD-Lua Discos), Ziskind lançou o álbum Cantigas de roda. À princípio, o disco era para ser apenas um brinde da Maternidade São Luiz para bebês nascidos lá quando completassem 1 ano de idade.. Todo arranjado para instrumentos acústicos, o disco começa com uma festa e termina numa sequência de ninar.

Em outubro de 2004, Hélio Ziskind apresentou no SESC Consolação o musical O gigante na floresta - título de seu segundo solo -, que narra a história verídica do Jequitibá de Carangola, uma árvore de 1500 anos que foi vítima de um incêndio criminoso. O espetáculo misturou canto com teatro de sombras - executado pela cia. Karagoz, imagens com mais de 5 metros que dançam e ilustram as canções. O projeto também contou com a participação do coro de 60 crianças do Curumim e alunos de cordas e sopros do SESC. Também em 2004, Hélio voltou a se encontrar com o Rumo para uma série de shows em comemoração aos 10 anos do fim do grupo e ao relançamento de todos os títulos pela Distribuidora Independente, da Trama. Uma grata surpresa para os fãs, que lotaram todas as apresentações e até hoje cultuam o grupo.