Vocês estão vendo esse traje preto que eu uso
Nos lugares onde cruzo ninguém sabe porque é
Me representa uma nuvem de paixão
Que me enluta o coração por ter perdido a mulher.
Aquela prenda que eu amava com ternura
E que o destino nos separou
Por que a má sorte debruçou entre nós dois
E a negra morte a companheira levou.
Eu lembro um pé de roseira que tinha sobre a janela
Que era os cuidados dela pra mostrar pras visitas
Lembro também o meu velho cachorro baio
Um macaco, um papagaio e um casal de caturritas.
Isso lá de quando em quando a roseira florescia
E a minha china querida para entreter as visitas
Mostrava logo a roseira e depois a casa inteira
O papagaio e as caturritas.
Eu me lembro bem assim parece estar enxergando
O gato se espreguiçando sobre a cadeira estofada
E a galinhada que enfeitava o terreiro
Nosso porcos no chiqueiro e uma lavoura plantada.
Me lembro bem deste gato, era um gatinho bardoso
Molerengo preguiçoso tinha o nome de mimi
E ela tratava esse gato com todo zelo
Passava a mão no pelo até o gato dormir.
Meu cachorro perdigueiro que era amigo do meu pingo
Nos saíamos no domingo umas horas tão felizes
Nos campos abertos onde entrava nós três
Com uma arma dezesseis pra negaciar as perdizes.
Meu cavalo, meu cachorro dois bichos fieis amigos
Em tão triste hora eu digo do pingo penteava a crina
A bicharada que não morreram fugiram
Parece até que sentiram com a morte da minha china.
Coma morte da minha china não tratei do bicharedo
Até meu novo arvoredo foi secando e não cresceu
O macaco entristeceu e as caturritas fugiram
E as parreiras caíram, o meu cavalo morreu
E assim foi se acabando meu rancho ficou tapera
Nem eu sou mais o que era, tudo se acabou para mim
Eu sei que mais tarde eu morro
Que nem o cavalo e o cachorro, rancho,arvoredo e jardim.
Meu cachorro ficou louco
E assim pouco a pouco tudo desapareceu
Só o que não desaparece
E a saudade que cresce neste humilde peito meu.