Smells Like a Tenda Spirita é o álbum que traz de volta a Gangrena Gasosa, a primeira e única banda praticante do saravá metal em todo o mundo. Literalmente atirando para todos os lados, o grupo carioca condensa em doze músicas as mais variadas misturas, no som e na temática das letras, onde as únicas regras são respectivamente o esporro e o deboche. A formação da Gangrena Gasosa data de 1990, e o objetivo inicial era tocar até conseguir abrir um show do Ratos de Porão. Ao mesmo tempo, era preciso arranjar alguma coisa que chamasse mais a atenção do que a qualidade técnica do grupo, e assim nasceu o saravá metal. O primeiro álbum da Gangrena, Welcome to Terreiro, foi lançado em 94 pela Rock It!, e trazia músicas com inusitados títulos, como "Despacho From Hell" e "Pegue Santo or Die", chamando a atenção da mídia. Os questionamentos aos dogmas do heavy metal, com deboches e detonação geral mexeram com a cena, e a mistura de pontos de macumba, atabaques e berimbaus acabou abrindo caminho para que outras bandas fizessem o mesmo. E isso muito antes do Sepultura lançar Roots, álbum considerado de vanguarda em todo o mundo justamente por misturar raízes brasileiras com o barulho do heavy metal. Lançado em LP/CD a tiragem inicial de Welcome to Terreiro desapareceu rapidamente, e a partir daí a Gangrena encarou um longo período de negociações com sua antiga gravadora, para dar seqüência à sua carreira. Capitaneados em 98 pela Tamborete Entertainment, e com várias mudanças na sua formação, a Gangrena finalmente está de volta com Smells Like a Tenda Spírita, título que por si só já vale o álbum. Da formação original, permaneceram Chorão3 (vocal), Vladimir (guitarra) e Felipe (baixo), entrando para o grupo Angelo Arede, ex-Dorsal Atlântica (vocal), Mutley, ex-Soutien Xiita (bateria) e Fábio Lessa (percussão).
A fórmula da Gangrena Gasosa continua a mesma, mas dessa vez a mistura de ritmos, e a temática debochada e caricata deixa as fronteiras do heavy metal, e soa mais abrangente, desde a produção (gráfica e sonora) de alto nível, até ao universo de referências, que atinge todo o cenário da música pop ou mesmo tudo que se encontra ao redor da própria banda . Assim, "Bloodline Chupacabra" traz os vocais quebrados difundidos pelo Soulfly, uma linha inversa com Max Cavalera, ao passo que "Headbanger Voice" é um "deathnoisegrindblackmetalsplattercore" que homenageia a coluna mais lida de uma certa revista especializada.
No quesito vale tudo, "Timbalada de Caveira" chuta o pau da barraca em nome do barulho, e "Centro do Pica Pau Amarelo" conta uma outra versão para a história de Monteiro Lobato, onde "Emília Pomba-Gira é uma boneca de vodu". Flertando com o rap/hip hop do Planet Hemp, em "Protesto Concreto" Ronaldo Chorão lança um ebó (?!), com a participação de B Negão, e "Matou a Galinha e Foi ao Cinema", além do título, remete ao personagem Tião Galinha, interpretado pelo ator Osmar Prado na novela Renascer. A produção ficou a cargo de Rogério Lopez (guitarrista da banda Vitória Régia), e ainda sobrou espaço para a inclusão de "Benzer Até Morrer/Kurimba Ruim", versão para os clássicos do Ratos de Porão, "Beber Até Morrer" e "Vida Ruim", originalmente incluída no tributo Traidô. Com Smells Like a Tenda Spírita a Gangrena Gasosa detona de vez qualquer conceito ou padrão de comportamento dentro da música pesada, sem compromisso com nada que sugira coerência, semelhança ou obediência. Tudo em nome da toscaria explícita. Alguém aí vai encarar?