Surgida em Detroit no final dos anos 60, no movimento musical que apresentou bandas como The Psychedelic Stooges (aquela do Iggy Pop), The Amboy Dukes (Ted Nugent), e MC5, entre outras, o Frijid Pink talvez não tenha alcançado o sucesso de seus concorrentes, mas certamente deixou uma obra que pode ser apreciada - e por que não dizer comemorada - visto que passados mais de 30 anos, seus discos ainda despertam muito interesse em quem ama o bom e velho rock and roll.
Formada em 1967 pelos estudantes Kelly Green (vocais), Gary Ray Thompson (guitarra), Tom Harris (baixo), Richard Stevers (bateria) e com participação especial de Larry Zelanka (teclados), a banda batalhou tocando em vários lugares, por cerca de três anos, até finalmente conseguir um contrato com a Parrot Label, que garantiu a gravação do tão esperado primeiro álbum. Foi quando surgiu a primeira mudança no grupo, com Thomas Beaudry entrando no lugar de Tom Harris, trazendo para a banda um swing blues.
O debute foi lançado em 1970, chamado simplesmente de Frijid Pink (com capa cor de rosa mesmo), um típico discaço, digno de estar os melhores desta maravilha e prolífera época, musicalmente falando.
A primeira canção, God Gave Me You (3:35”), é uma baladona na melhor linha do final dos 60’s, com bateria marcante e belo solo de guitarra. Lembra levemente algo do Animals em sua grande forma. Na seqüência temos Crying Shame (3:12”), um rockão com guitarras sujas e vocais ásperos. Lembra as coisas mais pesadas do grande Cream, de Eric Clapton.
A terceira é um blues/boogie de garagem delicioso, chamado I’m On My Way (4:34”), com uma linha de baixo fantástica. Neste estilo, logicamente, remetem ao maravilhoso Canned Heat dos primeiros álbuns.
Drivin’ Blues (3:17”) dá seqüência ao disco, este sim um blues mais tradicional, com gaita, vocais inspirados e belos passagens de guitarra. Uma faixa típica do blues inglês do final de anos 60, lembrando Savoy Brown, Canned Heat ou Chicken Shack. Uma das melhores do álbum.
Tell Me Why (2:51”) é puro rock de garagem, extremamente sujo, guitarra pra lá de básica, mas extremamente interessante, principalmente sobre os questionamentos irônicos e berrados de Kelly Green, perguntando ironicamente “Tell me Why, Tell meu Why”, algumas vezes… Já End of Line, a seguinte, é bem legal, porém menos inspirada que as demais.
O lado B é aberto com House of the Rising Sun (4:42”), versão para a canção de autor desconhecido, uma tradicional música sobre o lamento de uma mulher de New Orleans, que estava sendo enviada para um prostíbulo. Gravada por gente como Bob Dylan - em seu primeiro LP de 1962 - e imortalizada pelo Animals em 1964, a versão do Frijid Pink cai mais para o estilo dos Animals, onde os vocais lembram o genial Eric Burdon. Mesmo assim a banda mostra sua personalidade nos arranjos, mais pesados e sujos. Esta versão conseguiu relativo sucesso nas paradas da época, chegando ao 7º posto da Billboard. I Want To Be Your Lover, (7:34) é outro rockão bem garageiro, estando entre as melhores do disco. Para finalizar, um blues lento gravado ao vivo, Boozin’Blues (6.05”). Tradicional e inspirado, Boozin’Blues incorpora um sutil piano que dá todo o charme para a música, além de solos de guitarra preenchendo todos os espaços. Eric Clapton é a grande referência para estes momentos, certamente. Fechamento digno de nota 10 para o álbum.
O relançamento deste álbum em CD ainda traz 2 bônus tracks. A primeira é uma versão para a famosa Heartbreak Hotel (2:51”), lançada nos primórdios de 1956 pelo rei do rock, Elvis Presley, aqui cantada em forma de blues rock. Já Music For The People (2:55”) é uma baladona no melhor estilo gospel, onde o destaque são os backing vocals, além do belo refrão. Em alguns momentos lembra o velho e bom Creedence.
Após este álbum o Frijid lançou outro grande disco chamado Defrosted, (com os caras dentro de um cubo de gelo), também bastante interessante e mantendo o ótimo nível da estréia. O terceiro e último desta fase foi Earth Women, porém, já sem manter o mesmo nível de qualidade dos anteriores. A banda acabou após Earth Women, tendo tentado uma volta em 1975, lançando All Pink Inside, sem sucesso, o que acabou selando a carreira do grupo. Os três primeiros álbuns foram relançados em CD’s pela Repertoire nos anos 90 e os dois primeiros também saíram pela Akarma nos formatos analógicos e digitais.