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Cavalo Velho

Francisco Vargas


Eu vou lhes contar em versos o que ninguém se deu conta
Pra que entre de ponta a ponta na alma de quem compreende
Principalmente os que vendem depois de velho cansado
Sangrando o lombo pisado daquele que lhe defende.

Eu me refiro ao cavalo que neste mundo moderno
Depois de velho invernam pra vender pro saladeiro
A ambição por dinheiro faz com que a alma apodreça
E o sentimento escureça traindo o fiel companheiro.

Falo eu, por que aqui esmo um carroceiro vizinho
Criou cinco ou seis negrinhos no lombo de um alazão
Puxando inverno e verão tijolo, pedra e areia
Nunca comeu uma aveia, só dava-lhe sal por ração

Os anos foram passando algo que tudo consome
De fraqueza, miséria e fome transformou-se em carcaça
E não é que por desgraça um circo de diversão
Com tigre, pantera e leão se instalou ali na praça.

Na frente tinha uma placa e escrito em letra a mão
Cavalo, burro e cão se compra e paga no ato –
Não é que aquele mulato mais fera que o próprio leão
Vendeu o pobre alazão por um mil, aquele ingrato.

Hoje eu vejo lá na rua se apoiando num bastão
Já velho sem ilusão,, cansado sem serventia
Lembrando da covardia, do seu gesto desumano
Por trair quem tantos anos lhe deu o pão de cada dia.

Composição: Francisco Botelho de Vargas/Francisco Carlos de Salles





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