Fui visitar o sertão
Que nasci e me criei
Achei muito diferente
Parei um pouco e pensei
Em vez de ter alegria
Vive saudade e chorei
Chegando ali não achei
Nada que eu tinha deixado
Botei a culpa no tempo
Por ter sido encarregado
Em destruir as origens
Do sertão que eu fui criado
Fiquei impressionado
Com tanta transformação
Em uma mesa moderna
Vi uma televisão
No lugar do oratório
Que mãe fazia oração
Não vi mais o lampião
Que pai a noite acendia
A lata de querosene
Também estava vazia
Deram fim a lamparina
Por causa da energia
O pote de água fria
Trocaram por geladeira
Mas falta aquele gostinho
Da águinha da biqueira
Geladas em potes de barro
Feito das mãos da louçeiras
Não achei mais a chaleira
Que mãe fazia café
E nem o chifre de boi
Que pai botava rapé
Coisas que o jovem de hoje
Se ver não sabe o que é
Lá não vi mais o troupé
Dos burros nos tabuleiros
Nem os estalos dos reios
Pro os burros andar mais ligeiros
Resta somente a saudade
No coração do tropeiro
Lá não vi mais o vaqueiro
Aboiar no pé da serra
Correr atrás de boiados
Pra ver ser amarra ou ferra
As passadas dos cavalos
Tremendo o corpo da terra
Meninos de minha terra
Não quer brinquedo de osso
Pião nem bola de meia
Baladeira no pescoço
Coisa que a gente tinha
Sem gastar nada do bolso
Da minha vaca de osso
Não achei nenhum retrato
E os meninos de hoje
Não quer brinquedos baratos
Compram um carro da estrela
E sapeca o outro no mato.