Já não volta mais a primavera
Aonde a menina pagã
Só resta a demora da espera
E um corpo tão frio hortelã
E a calma de quem desespera
Rolando que nem avelã
E eu sempre a me perguntar.
Todo esse verão passei sonhando
Costurando, navegando
Tantos pianos, tantos planos irreais
Teias, rendas vivas do meu medo
Já não velam meu segredo
Abandonado num cais.
No outono eu queimava de amor
E as folhas caiam com calma
Ardiam as cinzas da dor
Fumaça de incenso na alma
A vida escrita na palma
A morte pedindo um favor
E eu sempre a me perguntar.
Todo esse inverno me insultando
E a saudade me esfriando
E eu amando, e eu amando até o fim
Escuta um coração que quase escapa
Um vilão de espada e capa
Agonizando em mim.