Se for possível, um dia, com calma,
conversaremos sobre o que acabou.
Se for possível, daremos as mãos,
essas mãos testemunhas do que se passou.
Não falaremos das meias verdades
que nos magoaram bem mais que as mentiras.
Será assim como quem se reabre ao amor impossível
só porque ficou.
Se for possível só por umas horas
despirmos mais do que a própria nudez,
revelaremos então as memórias
do corpo marcado do amor que se fez.
Libertaremos a fala contida
em todo este tempo que não quis falar,
recuaremos o que for preciso
até encontrarmos o verbo gostar.
Se for possível, depois passearemos
pelo silêncio de estarmos os dois,
descobriremos que os anos passaram mas ficámos nós para
contar como foi.
Se for possível marcar este encontro,
a despedida sonhei-a assim:
- era um sorriso, um adeus disfarçado,
outra vez separados mas juntos por fim.