Teu silêncio fere minha alma
Teu silêncio fere minha alma
Como estocadas de uma navalha
Desisto da vida porque não te ouço
Entrego meu copo ao sepulcro eterno
pelo afago de tua língua, para escutar de longe
Em triste cárcere, em sombra, em calabouço
Ao meu espírito sôfrego ofereço o desânimo
O desespero, a fuga, o medo e a culpa
Cansei de nadar contra um rio caudaloso
Que a mim, a lástima física imputa
Ao tolo me curvei, dei a outra face
Ao sábio ofendi, bebi sua cicuta.
Não consigo viver sem um disfarce
Sem expressar minha ira num sorriso
Não posso olhar para meu inferno
E não me refrescar, e não soltar um grito
De espanto, num espasmo de reverência.
E, para apagar a consciência
Desisto do ser, para não perder
O bem maior, para te ouvir
pela última vez à minha cova
Com palavra solta, vazia, hipócrita
Mas que seja nova, e não de indiferença.