Jair Amorim, nasceu em Leopoldina (ES), em 1915, aos 13 anos, no internato São Vicente de Paulo, onde estudava já fazia versos para uma valsa sucesso da época, cantada em castelhano, que ninguém entendia. A letra se espalhou pelo colégio, e todos cantavam, sem saber, o primeiro sucesso de Jair Amorim.
Ao completar 15 anos, com a perda do pai, largou os estudos e iniciou sua vida profissional no Diário da Manhã, em Vitória (ES), como cronista social, crítico de teatro e cinema, e revisor.
Em 1940, foi locutor e dirigiu alguns programas na Rádio Clube do Espírito Santo, começando então a escrever letras para blocos carnavalescos. Um ano depois, mudou-se para o Rio, onde escrevia crônicas para as revistas Carioca e Vamos Ler.
Admitido como locutor na Rádio Clube do Brasil (depois Mundial), teve a oportunidade de conhecer o compositor e pianista José Maria de Abreu.
Jair Amorim buscava então compor junto com Zequinha de Abreu, este, desinteressado após a morte de seu parceiro Francisco Matoso (Boa noite, amor).
Quando despontou a canção Maria Elena, do mexicano Lorenzo Barcelata, a música era cantada em inglês, e o cantor Arnaldo Amaral foi quem lhe deu a dica: Se eu tivesse uma letra pra essa música, eu ia acontecer no disco. Meia hora depois a letra estava pronta, e o disco estourou nas paradas de sucesso (1942), atraindo a atenção de Zequinha de Abreu.
Teve início a dupla José Maria de Abreu-Jair Amorim, que perdurou uns 10 anos, com muitos sucessos: Um cantinho e você, Sonhar, Ponto Final, Alguém como Tu, todas sucessos na voz de Dick Farney.
Jair Amorim seguiu sua carreira nas rádios Mundial e Mayrink Veiga. Aos poucos foi se integrando nas rodas de compositores e boêmios, o que lhe rendeu uma grande
parceria com o sambista Dunga - "Conceição", o maior sucesso na voz de Cauby Peixoto - em 1956, e Alcyr Pires Vermelho - "Se alguém telefonar" - no ano seguinte.
Ainda no início de 1950, quando entravam na moda os conjuntos vocais, um conjunto vocal despontava no Ceará. Batalhando por uma oportunidade maior seus integrantes se apresentaram na Rádio Nacional do Rio de Janeiro como o Trio Nagô. Um deles chamava-se Evaldo Gouveia.
Evaldo Gouveia foi fundador do Trio Nagô nasceu em Orós, Ceará em 1930. De sua formação primária fez parte tocar violão e cantar na "radiadora", sistema de alto-falantes na praça de sua cidade.
Aos 19 anos já tocava em conjuntos, e as músicas de Jair Amorim lhe despertavam a atenção. Percorrendo programas de calouros e arrebatando prêmios como cantor, já sentia que seu prestígio aumentava e podia se dar ao luxo de cantar na Ceará Rádio Clube as músicas da dupla Jair Amorim-José Maria de Abreu.
Formando um trio vocal em 1950, o grupo fez carreira se apresentando pelo Brasil e exterior durante 12 anos - o Trio Nagô - se dissolvendo em 1962.
A partir de 1957 Evaldo Gouveia compôs em algumas parcerias com Gilberto Ferraz (Deixe que ela se vá), Pedro Caetano (Eu e Deus) e Almeida Rêgo (A noite e a prece, e Pior pra Você).
Jair Amorim era secretário e diretor da UBC - União Brasileira de Compositores - quando conheceu Evaldo Gouveia, que tentava se filiar à associação em 58.
Alguns elogios e rasgação de seda por parte de Evaldo Gouveia a Jair Amorim, e naquela mesma noite se iniciou uma das parcerias mais famosas da MPB.
A primeira de uma lista de 150 composições (na maioria sambas-canções abolerados) foi o samba-canção "Conversa", gravada por Alaíde Costa em 1959, no primeiro LP da cantora.
A partir de 1962 conta-se o primeiro grande sucesso da dupla Jair e Evaldo: "Alguém Me Disse", gravada por Anísio Silva.
Incontáveis sucessos na voz de Miltinho, com "Poema do Olhar" e Morgana com "E a Vida Continua", mais tarde regravada com sucesso por Agnaldo Rayol. Moacyr Franco também vendeu muitos discos com o Bolero "Ninguém Chora por Mim".
Da fase de 63, o mais famoso intérprete foi Altemar Dutra com "Tudo de Mim" "Que Queres Tu de Mim", "Somos Iguais", "Sentimental Demais", "Brigas", "Serenata da Chuva" e as marchas-rancho "O Trovador" e "Bloco da Solidão". Cauby Peixoto foi sucesso com "Ave Maria dos Namorados", lançada por Anísio Silva pouco antes.
Em 65 Wilson Simonal fez sucesso com a Bossa Nova "Garota Moderna". Em 1969 o samba voltou a se impor com "O Conde", gravado por Jair Rodrigues.
A dupla Evaldo Gouveia-Jair Amorim também é creditado o sucesso do samba-enredo da Portela, "O Mundo Melhor de Pixinguinha", em 1973.
Entre os grandes intérpretes que gravaram a dupla Evaldo Gouveia e Jair Amorim estão Ângela Maria, Maysa, Dalva de Oliveira, Gal Costa, Maria Bethânia,
Zizi Possi, Emílio Santiago, o espanhol Julio Iglesias.
Mais recentemente, Cris Braun releu "Brigas", em 1998, e Ana Carolina, "Alguém Me Disse", em 99, mesmo ano em que Milton Nascimento regravou "Se Alguém Telefonar".
Em 2000, Simone repescou "Sentimental Demais" e "Que Queres Tu de Mim", e Fafá de Belém, "Ninguém Chora por Mim".
Acusados de comercializar excessivamente a música brasileira, a dupla respondia compondo nos mais variados ritmos, desde o bolero, samba-canção, valsa, marcha-rancho, balada, até o samba-iê-iê-iê (a onda da música jovem de 65), sempre inteiramente entrosada no momento musical.
Evaldo Gouveia apostava em sua inspiração e harmonia. Jair Amorim, o letrista para quem não havia mistério, fazia música para ser cantada pelo povo. Jair Amorim faleceu em 1993. Evaldo Gouveia.