Eita velho sentimento
Que a tanta gente consome
Que depois que aparece
DóI, alivia, não some
Toda a humanidade sente
E a flor do laço somente
Deu-lhe a essência de nome
Musa de tantos poemas
Filha pura da verdade
Quantos poetas cantaram
Com rara simplicidade
E se eles tanto cantavam
Isso é porque já estava
Sabendo que é saudade
A saudade que mais maltrata a gente,
Quando a gente se encontra em uma terra alheia
É ouvir o trovão nascente
Para uma tarde de março às 4:30
A zoada do rio, a orla da corrente,
Fazer lindos castelos na areia
Uma torre partindo o sol poente
E uma serra para cada lua cheia
O vaqueiro aboiando sem maldade
Com saudade do gado e com saudade
O gado urrando ao eco do vaqueiro
O cantar estridente da siriena
E o cachimbo da velha borborema
Nas manhãs invernosas de janeiro
Uma saudade infestada no meu peito
Eu sempre tive
Não sei como é que se vive
Sem ter saudade de nada
Até mesmo um camarada
Quando faz uma partida
Nos deixa por despedida
Uma saudade plantada
Não ter saudade de nada
É não ter nada na vida
Saudade!
Velha saudade
Saia de perto de mim
Porque hora da vela
Eu sei que é muito ruim
Pois só a vela é quem vela
Quem leva a vela no fim
Essa palavra saudade
Conheço desde criança
Saudade de amor ausente
Não é saudade, é lembrança
Saudade só é saudade
Quando se perde a esperança
Saudade é um parafuso
Que quando na rosca cai
Só entra se for torcendo
Porque batendo não vai
Depois que enferruja dentro
Nem distorcendo ele sai
Saudade é uma agonia
Que dá no meio do peito
Coceira no braço esquerdo
Pra quem não tem o direito
A volta do funeral
A quarta do carnaval
É coisa que não tem jeito
Eu já tou diminuindo de tanto sentir saudade
Saudade me dá insonia
De comer tira a vontade
Sinto saudade até dela quando não tou com saudade
Quem quiser plantar saudade
Escalde bem a semente
Plante num lugar bem seco
Na hora do sol bem quente
Pois se plantar no molhado
Ela cresce e mata a gente
Minha casa era vizinha
Da casa que ela morava
Da minha casa avistava
Tudo o que na dela tinha
Ela também via a minha
Do jeito que eu via a dela
Quando fendava a janela mal disfarçava o ferrolho
Brechava só por um olho pra vê se eu brechava ela
Um dia estava chorando
Lá no banco da cidade
Perguntou-me uma velhinha
Como quem tem piedade
- Porque choras criatura?
Eu respondi:
- De saudade
Eu vou dizer pra senhora, com toda sinceridade:
Essas lágrimas que derramo
Aqui em plena cidade
São as mágoas de um amor
Que perdi na mocidade
Desculpa eu lhe perguntar:
- Ele já é falecido?
- Deus me livre, não senhora
É forte, jovem e nutrido.
Mas o que eu sofri por ele
Já dava pra eu ter morrido.
Quando um poeta sem musa
Busca a ramagem
Encontra logo a imagem do seu coração
Mas se o tempo só uma saudade resta
E a rima empresta sua rima pra recordação
Êh! Saudade me mande embora de quem perto estou (2x)
Quando a madrugada escuta as minhas passadas
As coisas ficão tão distantes querendo passar
É que chega assim sem jeito
Meio de repente
Com uma vontade de esquecer de te lembrar
Êh! Saudade me mande embora de quem perto estou (2x)
Quando os sabiás acordam a manha cantando
Encontram o eco do orvalho na sua canção
Mas seu canto vai dizer somente incerteza
Se a saudade é tema triste daquela canção
Êh! Saudade me mande embora de quem perto estou (4x)
Composição: Em canto e poesia