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Biografia de Doves

Quando o Doves se formava diante da explosão do acid house na cidade de Manchester, na Inglaterra, seus integrantes era apenas três adolescentes buscando o sucesso. Os irmãos gêmeos Jez e Andy Williams nunca mais tinham ouvido falar de seu ex-colega de escola, Jimi Goodwin até que eles se trombaram, literalmente numa noite muito louca na pista de dança do legendário Hacienda Club, a casa noturna onde toda aquela geração que queria dar um rumo para sua vida se reunia. Eles também se reuniram e resolveram então formar sua banda.
Hoje, o Doves certamente já pagou o pato. Com sua inspiração, apresentações ao vivo intensas repletas de loucas guitarras que complementam canções de gosto refinado, eles estão na crista da onda. Em meados de 1993 começaram com o nome de Sub Sub e chegaram até a colocar uma música na 3a. posição da parada inglesa de dance music, 'Ain't No Love (Ain't No Use)'. E essa preferência por dance music não foi um obstáculo para que depois formassem uma banda de verdade. Assim o Sub Sub foi se desgastando e desapareceu depois de um incêndio no estúdio onde estavam os masters de seu próximo álbum que logo seria lançado.
Assim nasceu o Doves, literalmente num batismo de fogo. Colocaram na rua o single 'Cedar' e colaboraram nas gravações do Badly Drawn Boy, já que o próprio Damon Gough os persuadiu dizendo que o próximo trabalho deles precisava de um tratamento especial da "cozinha" do Doves.
Então vieram os single 'Sea' e 'Here It Comes', que tinham uma roupagem que tocava mais a alma e o coração. Esse fator tinha tudo haver com sua profunda sensibilidade eletrônica e que combinava muito bem com as letras. Se por um lado o primeiro CD - 'Lost Souls' - trazia essa veia melancólica por outro lado também continha faixas pra cima, muito otimistas, assim não fazia a cara do trabalho uma chatice.
Não era para menos o cuidado excessivo com o primogênito, já que ele saía nove anos depois da criação da banda, depois de muitos tropeços e outros obstáculos que eles souberam triunfantemente ultrapassar. Na mente desses jovens de vinte e poucos anos só passavam a insistência, o euforismo, a melancolia e nesse apanhado construíram trechos de guitarras indestrutíveis, seguidos de belas canções.

Eles têm raízes na música eletrônica que curtiam desde moleques e isso claramente se apresenta nas suas músicas, diminuindo a intensidade com o passar do tempo, mas ainda existente. 'Lost Souls' foi sucesso de crítica e levou a banda a capas de revistas e rendeu alguns bons awards de banda revelação. Nenhum hit chegou a abalar a Terra da Rainha mas todos cantarolaram e assoviaram 'The Cedar Room' e 'Here It Comes' pelo menos uma vez durante 2001.
O Doves vem da safra que traz bandas para alargar o quadro dos britpops inaugurado por Oasis, Verve, Radiohead e outros e que pretende formar um esquadrão de peso com suaves melodias, letras sofisticadas mas não chatas, inteligentes mas não torturadoras e claro com pitadas das influências de cada qual. E o Doves promete; é o líder desse "movimento".

"Cada música tem que ser um estouro. Não faz sentido de outra forma. Quem precisa de mais uma música mediana em sua vida?", disse Jez Williams, em Janeiro de 2001, quando o Doves entrava novamente em estúdio. Eles sabiam exatamente o que buscavam. Era hora de deixar o passado, seguir em frente e se transformar na banda que eles sempre quiseram ser.

Seu álbum de estréia, Lost Souls, lançado doze meses antes, talvez tivesse superado as expectativas de crítica e de vendas (vendeu 160.000 unidades na Inglaterra e foi declarado "o primeiro grande álbum do milênio" pela NME), todavia, pode-se dizer que ninguém havia conhecido o coração de Doves (Doves é Jimi Goodwin - o homem de frente da banda - e os gêmeos Jez e Andy Williams)

Musicalmente, eles eram aclamados como "The Big Music"- uma referência obliqua aos sucessos de estádio como U2, Echo and The Bunnymen e Simple Minds. Isto era surpreendente para uma banda que havia crescido com The Smiths e New Order antes de gravitar em direção ao notório clube Hacienda de Manchester e da House Music.

Emocionalmente também, eles se viram mal representados, pintados de um clássico nortista que surge da miséria. É verdade que o álbum tenha sido gerado em tempos difíceis (o estúdio deles incendiou em 1996, o fim de sua primeira banda Sub Sub em 1997 e a morte de seu mentor Rob Gretton em 1999), mas Lost Souls não era um disco a respeito de derrotas. Muito pelo contrário.

"As pessoas contínuamente nos diziam que eramos deprê," explica Jez, "mas Lost Souls não é nada disso. É sobre lutar e sair desta situação. Tem tanta esperança neste disco. Eu acho que nós tivemos o mesmo problema que o The Smiths. As pessoas os taxaram de melancolicos, mas não olharam fundo. Havia tanta alegria no trabalho deles. A música era um soul nortista".

"Quando fomos para o estúdio desta vez", continua Jimi, "nós estávamos determinados a mudar a percepção que as pessoas tinham de nosso trabalho. É muito fácil escrever música melancólica. Escrever sobre coisas positivas já é outra história".

"Desta vez", fala Jez, "nós estávamos mais seguros e acho que você pode perceber isso". "Lost Souls" havia consumido 4 anos da vida deles, "4 anos passados num apartamento sem janelas em Cheetham Hill onde costumava ser o estúdio do New Order. "The Last Broadcast", no entanto gravamos em 12 meses. Dez, se reduzirmos os dois meses que passamos em turnê nos EUA".

"Pra gente, gravar um álbum em um ano era como um milagre. Costumava levar este tempo para conseguirmos finalizar uma música!"

Segurança foi a chave. No lugar de ficarem num apartamento, aos poucos perdendo a lucidez, eles viajaram. Eles gravaram no Revolution de Manchester e no Parr Street de Liverpool, quando cansaram eles alugaram casas em Ramsbottom e Cumbria. Um dos vocais (a bela "M62") foi gravado num vôo saindo de Manchester.

Duas faixas foram gravadas no estúdio da Real World em Bath, antes de acabarem indo para Londres nos estúdios The Dairy e 2kHz, respectivamente. Se parece uma odisséia, foi proposital. Isto faz com que o disco pareça auto produzido (fora alguma produção adicional realizada por Max Heyes e na faixa "Sattelites", tenha a produção de Steve Osbourne, além dos maravilhosos arranjos de metais do "The High Llama" Sean O'Hagan, enquanto "Cauht By The River" foi co-produzido por Osbourne e Doves), o resultado destas disparatadas sessões é nada menos que fenomenal.

Andy recentemente declarou que o disco é algo como a alma nortista encontrando New Order e The White Stripes. Mais isso é só metade. A sensação é que o Radiohead foi de Pablo Honey para o The Bends, ou mesmo, de The Bends para OK Computer.

Foi um salto quântico, e uma salto que mostra todas as suas influências e experiências num magnífico documento. The Smiths, The Hacienda, My Bloody Valentine, está tudo lá, e a música é incrível. Desde o psicodélico de "Words" até a amplitude de "There Goes The Fear" e o assalto de "Pounding", há um senso de aventura que "Lost Souls"apenas sugeria.

Adicione a corrida cinemática de faixas como "Friday's Dust" e "Sulphur Man" e o toque espiritual de "Satellite" e você pode começar a entender a ambição. Tem muito mais: encantos eletrônicos, sons encontrados, batidas de house tocadas por uma banda de rock, camadas de barulho denso, experimentação inesperada, repetições, folk acústico, tudo que você imaginar, estará lá. É como um disco produzido por Martin Hannet, The Chemical Brothers e Phil Spector ao mesmo tempo.

"Nós estamos muito orgulhosos", admite Jimi, "mas ainda estamos muito envolvidos para poder entender."

"É certamente nosso trabalho mais otimista," fala Jez. Andy: "Eu estou eliz de termos conseguido capturar a diversidade de nosso potencial. Eu acho que este disco e uma viagem."

"Acho que conseguimos exorcizar alguns fantasmas" conclui Jez. "Mesmo quando voltamos ao Sub Sub, nós nunca havíamos conseguido gravar a coisa certa, ou mesmo nos encaixar na atualidade. Desta vez, no entanto, nos estabelecemos com identidade. Acho que pela primeira vez você pode entender o que nós somos."

Ele está certo. Doves acaba de deixar o passado e se transformar na banda que eles sempre quiseram ser. Ouça "The Last Broadcast".

É o segundo maior álbum do milênio.

O LANÇAMENTO DO TERCEIRO ÁLBUM : “SOME CITIES”

Para mim: Mais um grande trabalho desta maravilhosa banda!

Se os dois primeiros álbuns do Doves, Lost Sides e The Last Broadcast, eram discos que soavam como se tivessem sido concebidos em um vale tão amplo quanto o do Glastonbury, cada faixa um retrato de um vasto campo ou do mar, então seu terceiro álbum, Some Cities, une em um quadro diferentes pinturas. Em alguns pontos é ruidoso e urbano, como um passeio de carro em alta velocidade através das batidas do coração industrial da cidade (principalmente no turbinado primeiro single Black And White Town). Em outros, parece uma longa trilha sonora perdida de algum drama do início dos anos 60 sobre pessoas comuns (Someday Soon, Shadows Of Salford). Some Cities só poderia ter nascido no norte da Inglaterra e é o som de uma banda com toda a força. É também o som do Doves em seu mais relaxado e confiante, seu mais potente e bem afinado momento.

Some Cities chega quase três anos depois de The Last Broadcast. Concebido como um disco menor, mais forte que seus dois predecessores, foi escrito principalmente em chalés e hotéis pela Inglaterra (Snowdonia, Darlington e Youlgreave no Peak District) e gravado com Ben Hillier (produtor de “Think Tank”, do Blur, e “Cast Of Thousands”, do Elbow) em Liverpool, Brixton e Loch Ness. E foi inspirado inicialmente pelo “choque e animação em ver Manchester mudar cada vez que voltávamos de turnê” (Jimi) e, musicalmente, pelo hobby “entre álbuns” de atuar como DJ, quando a banda foi de cidade em cidade tocando uma feroz seleção de soul e acid house.

Some Cities é um disco calcado, mas nunca exageradamente, nesses estilos musicais, cada um somando sua própria metronômica batida às músicas (especialmente em Black & White Town e Almost Forgot Myself). Como um todo, o disco faz o que a banda planejou alcançar ao evocar a nova cara do norte da Inglaterra – você pode ouvir na música uma fuligem de cidade correndo o álbum, sobretudo na faixa-título com o imenso e opressivo estrondo de bateria que soa como maquinário pesado sendo violentamente desmantelado (e linha de guitarra que poderia quase soar como início de outono); Shadows Of Salford soa como uma canção fantasma de ninar assoviando em seus ouvidos enquanto você anda pelas mesmas ruas em que One Of These Days e Sky Starts Falling ambas passeiam em velocidade total. Walk In Fire dispensa qualquer comentário! Someday Soon poderia ser algumas fitas master empoeiradas e fora de lugar da trilha de um filme da vida de Rita Tushingham ou Tom Courtney, todos os violões mergulhando em uma valsa de percussão e um verdadeiramente celestial loop de flauta.

A faixa final Ambition evoca nada mais que o Velvet Underground tocando ao vivo no Heaven, como ver o nascer do sol de uma janela do 10º andar no meio da cidade enquanto o mundo começa a engatinhar logo abaixo de você. As únicas horas em que o disco se afasta da cidade são durante The Storm, uma música ressonante de piano e orquestra que soa algo como “Hot Buttered Soul”, gravada em condições climáticas esdrúxulas nos Pennines (descrita por Jimi como “ligar uma imponente orquestra a um rádio transistor”), e a arrebatadora, monumental Snowden, música escrita às sombras, e obviamente inspirada por uma montanha muito grande e bela.