Moro num sertão deserto
Naquele mundão aberto
Não se vê ninguém por perto
Do lugar que eu habito
Ao lado da minha roça
Eu tenho minha palhoça
Feita de madeira grossa
E com folha de palmito
Muita gente tem receio
Não vai lá nem a passeio
Dizem que o lugar é feio
Mas eu acho tão bonito
Pois é lá no cafundó
Que sinto prazer maior
Dizem que tem lugar melhor
Porém eu não acredito
Vou dizer uma verdade
Com toda sinceridade
Só vim hoje pra cidade
Comprar o que eu necessito
Acabando de comprar
Eu já vou me retirar
Tenho pressa de voltar
Pro meu recanto bendito
Não me dou com esse ambiente
Agitado e diferente
O sotaque dessa gente
Eu acho tão esquisito
Por isso eu vou dar o fora
Logo mais eu vou embora
Pro meu rancho lá da flora
Meu cantinho favorito
Lá no mato eu não dependo
De ninguém me protegendo
Do perigo eu me defendo
Sou astuto e sou perito
Mas quando eu chego na praça
Eu já vou perdendo a graça
O barulho e a fumaça
Me deixa tonto e aflito
Quero ver a olho nu
O imenso céu azul
E o meu cruzeiro do sul
Brilhando no infinito
O ar puro do sertão
Não tem contaminação
A única poluição
É a fumaça do meu pito
Não tenho grande estatura
Nem tanta musculatura
Sou carente de gordura
Sou fino que nem um palito
Mas tenho boa saúde
E um pouco de juventude
Apesar de homem rude
Eu tenho meus requisitos
Adoro estar na floresta
Vendo a natureza em festa
Apreciando a orquestra
Dos bandos de periquitos
Esta moda é uma imagem
Da minha vida selvagem
É uma forma de mensagem
Que no mundo eu deixo escrito