Eu deitei de madrugada com a cabeça atordoada
e o peito cheio de sarro,/ Antes de dormir ainda
eu tomei mais uma pinga e acendi mais um cigarro.
A pinga desceu queimando e a fumaça foi entrando
e eu prestei bem atenção./ Escutei quando a cachaça
conversava com a fumaça pertinho do coração.
A pinga com imponência contou sua procedência
disse que era interiorana./ Dizia pra sua amiga
eu sou de família antiga minha mãe se chama cana.
Eu nasci numa engenhoca e gosto desses bobocas
que me beija toda hora./ Mas quem comigo se ilude
vai perder sua saúde e morrer antes da hora.
Depois da dona cachaça quem falou foi a fumaça
e dizia sorridente./ Eu sou filha do tabaco
o sujeito que eu ataco logo vai ficar doente.
Sou amiga da bronquite e o cara que me adimite
vai ter um triste fadário./ Mas se ele gosta de mim
pois então que seja assim ninguém manda ser otário.
Depois que elas conversaram as duas se separaram
trocando aperto de mão./ A pinga subiu depressa e a fumacinha perversa foi pra dentro do pulmão.
Não sei se eu estava sonhando eu vi o mundo girando
e comecei a tossir./ Meio vivo e meio morto
tive tanto desconforto e não pude mais dormir.
Aquele assunto sem graça do fumo com a cachaça
estava me perturbando./ Comecei ficar com medo
levantei cuspindo azedo o dia estava clareando.
Assim que me levantei no quarto me ajoelhei
falei com Deus nosso Pai./ Jurei por Nossa Senhora
e torno dizer agora... não fumo e não bebo mais.