O recifense Roberto Di Melo, mais conhecido pelo sobrenome, que virou uma lenda viva entre seus poucos ouvintes. Di Melo, músico que lançou único disco, em 1975, retornou à cena em 2009 com apresentações memoráveis no Festival de Inverno de Garanhuns e no bar Burburinho.
Quando se fala em música pernambucana dos anos 70, as referências sempre citadas são o único disco do 'Ave Sangria', o cultuado álbum "Paêbiru", de Lula Côrtes e Zé Ramalho, além de produções como Satwa, álbum de 1973, que Lula Côrtes fez com Lailson de Oliveira.
Dono de uma voz poderosa, cantor ressurgiu de um passado em que teve tudo para se projetar, mas preferiu o anonimato. Marconi Notari também é citado, como compositor responsável pelo disco não menos lisérgico, intitulado No sub reino dos Metazoários.
Em julho de 2009 o público pernambucano conferiu dois shows do cantor. Comprovou que o cara não está morto (existia uma versão que contava, inclusive, detalhes de sua morte trágica) e que ele continua dono de uma voz poderosa, de um repertório sensacional e, agora, de uma banda luxuosa, formada em sua maioria por músicos olindenses, que não só já eram fãs de Di Melo, como estavam montando um projeto para fazer cover das músicas dele.
Uma rede de coincidências favoreceu o retorno do cantor. A redescoberta de Di Melo acontece na verdade a partir dos anos 90, quando DJ's ingleses incluíram uma de suas melhores músicas, "A vida em seus métodos diz calma", na coletânea de música brasileira Blue Brazil, lançada pelo selo Blue Note.
Mais dócil do que foi nos anos 70 - quando o sucesso do primeiro disco provocou enorme euforia, saciada com muitas drogas, mulheres e altas confusões - Di Melo começa a atrair admiradores que querem contar sua história.
Foi assim que o curtametragista recifense Alan Oliveira uniu-se ao paulista Rubens Pássaro, pois ambos tiveram a mesma ideia, de contar a vida do artista. Uma história que, subordinada ao anonimato, foi terreno fértil para as mais variadas invenções.
O sumiço do músico foi coisa tão séria que nem sua família sabia do seu paradeiro. O documentário sobre Di Melo já tem uma cena fortíssima: o reencontro dele com os irmãos. A irmã de sua meia-irmã viu o anúncio do seu show e foi com o resto da família encontrar Di Melo, no bar Burburinho.
Quando ele entra no camarim, sem saber de nada, encontra Cristina, filha de sua mãe Gabriela, que morreu quando ele era pequeno, deixando-o para ser criado com o padrasto. Di Melo começa a chorar.
Di Melo foi de vez para São Paulo, em 1974, incentivado por Jorge Ben, que o indicou o empresário Roberto Colossi. Desde então, ele sempre morou em São Paulo.
Colossi agenciava artistas como Chico Buarque, Paulinho da Viola, Wanderley Cardoso e Jô Soares. Melo ainda tocou violão na noite paulistana até que, convidado pela EMI Odeon, gravou o sonhado disco.
A vendagem foi um sucesso, e ele continuou circulando pelos bares, incluindo o Jogral, um dos mais disputados. O problema, que mais tarde causaria seu recolhimento, era que a gravadora queria dar as cartas.
Quando João Nogueira morreu em junho de 2000, Di Melo diz que também recebeu pressão para ocupar a lacuna, pois tinha um grave marcante.
Chegou a ganhar dinheiro, mas gastou tudo. Na loucura do momento, pediu recisão do contrato, ficou sem empresário. Mas nunca, nesses anos longe dos palcos, deixou de compor. Gravou discos caseiros, que distribui com amigos e fãs. Di Melo tem repertório para mais de dois discos de inéditas. Vai ver que a hora é agora.
Di Melo chegou em fins dos anos 60 a São Paulo, e recomendado pelo Babulina tocou na boate Jogral e excursionou ao Japão com Jorge Ben e Trio Mocotó, onde registrou um disco. Em 1975 lançou pela Odeon seu LP homônimo, que contava com as participações de Hermeto Pascoal e do guitarrista Heraldo do Monte, e a canção "Kilariô" obteve algum sucesso. Outras de suas canções são: "Pernalonga" e "Se o Mundo Acabasse em Mel".