A carreira de Daniela Mercury como cantora é uma história de talento e trabalho árduo que marcou definitivamente o panorama da música brasileira nos anos 90, desde o início da década, quando ela se tornou o maior fenômeno do mercado de discos e shows, batendo recordes de vendagem, recordes de execução de músicas nas rádios e recordes de público em seus shows. Tendo começado na Bahia, onde nasceu e vive até hoje, a trajetória artística de Daniela vem reafirmando a sua presença no cenário da música brasileira, hoje não mais como um novo talento, mas como uma artista que, em dez anos, estabeleceu-se definitivamente como uma das maiores estrelas do panorama musical brasileiro.
Todas as suas conquistas começam com os primeiros passos na dança, depois com o seu desenvolvimento como bailarina profissional, até o momento em que assume o seu talento como cantora e investe profissionalmente na música. Estava sendo preparada, desde então, uma artista completa que, além de desenvolver uma voz poderosa e versátil, canta, dança, compõe, cria arranjos e produz seus discos e shows. Depois de cantar na noite, em barzinhos de Salvador - um aprendizado valioso para qualquer cantor - Daniela vai se aventurar no desafio de cantar em trios elétricos no Carnaval da Bahia e nas micaretas do interior do Estado. Após adquirir uma valiosa experiência nesse circuito, que exige muito do artista, Daniela forma, junto com Rudney Monteiro, a Companhia Clic, uma banda que fazia a fusão de pop rock e ritmos baianos.
Depois de dois discos e muitos shows - ainda restritos à Bahia - Daniela parte para a sua carreira solo, lançando o seu primeiro disco pela gravadora independente Eldorado, em 1991. Começaria então o fenômeno que logo mais iria conquistar todo o Brasil.
A música "Suingue da Cor" iria se tornar o maior sucesso das rádios baianas e mais tarde de todo o Nordeste. Definitivamente, deste lado do Brasil, Daniela já era uma grande estrela. Junto ao sucesso da música, o disco batia recordes de vendagem e seu show começaria a encantar multidões. A dança, a ginga baiana, a voz, a qualidade dos seus músicos e a sua interpretação hoje antológica do samba-reggae acabaria provocando ressonâncias no sudeste e sul do país, região onde as rádios e emissoras de televisão, além da própria imprensa, resistiam a absorver a importância da nova música baiana que mais tarde seria batizada de axé music.
E coube justamente a Daniela Mercury o privilégio de romper com as resistências e preconceitos da região mais urbana e desenvolvida do Brasil, que finalmente se rendeu ao talento, vigor e sedução rítmica de sua música. Primeiro foi São Paulo, onde um show sem grande divulgação programado para o meio-dia no vão do Masp, na Avenida Paulista, acabaria se tornando um momento histórico na sua carreira. A região de maior concentração de riqueza do Brasil, que abriga as mais importantes empresas do país, a avenida símbolo da cidade, iria parar para ver o show de Daniela. As mais de 20 mil pessoas que se espremiam para ver a artista no pequeno espaço do vão do Masp, se espalharam pela avenida interrompendo o trânsito e provocando um engarrafamento monstro. Depois dos paulistas, todo o Brasil começaria, a partir daí, a se render ao talento dessa baiana que iria derrubar preconceitos e distâncias para despertar novamente nos brasileiros o amor pela Bahia.
Câmeras de televisão, microfones de jornalistas, máquinas fotográficas, a mídia brasileira espontaneamente investiu, cheia de admiração e curiosidade sobre a artista, transformando-a em alguns meses no maior fenômeno da música brasileira do período. Programas populares de auditório na televisão, shows por todo o país e programas prestigiosos como o de Marília Gabriela colocaram Daniela em evidência. Frente a frente com a artista, Marília Gabriela iria lhe perguntar numa entrevista histórica: "como é que você surgiu de repente, surpreendendo o Brasil com uma artista completa, que canta, dança, tem estilo, domina absolutamente o palco e as câmeras? Você já nasceu pronta?"
As dimensões continentais desse país chamado Brasil explicam um pouco por que uma artista como Daniela, com alguns anos de carreira, famosíssima na Bahia e mesmo no Nordeste fosse absolutamente desconhecida na região mais ao sul do país. Mais uma vitória da artista: nunca mais, desde então, o Brasil ignorou os novos talentos produzidos a cada ano no panorama artístico baiano.
O seu próximo disco, "O Canto Da Cidade", já através de uma grande gravadora, a Sony, iria transformar Daniela Mercury numa definitiva estrela. O sucesso do disco e do show seria sem precedentes. A artista se tornaria ao mesmo tempo a maior vendedora de discos e o maior cachê para shows em todo o Brasil. Afinal, nenhum outro artista conseguia reunir tanto público de norte a sul do país. Uma média de 30 mil pessoas a cada show, num ritmo de cinco apresentações por semana, iria levar a arte de Daniela e a força da nova música baiana a milhões de brasileiros que não se cansavam de acompanhá-la, cantando : "A cor dessa cidade sou eu, o canto dessa cidade é meu".
O sucesso impressionante que conquistou no Brasil, Daniela desde o início, partilhou com a Bahia. Em todas as suas apresentações ela convidava o público para ir conhecer o Carnaval da Bahia. Esses milhões de brasileiros iriam aceitar o convite e contribuir para o crescimento do já gigantesco carnaval baiano. Primeiro no bloco Os Internacionais, depois à frente do Crocodilo, Daniela se consolidaria como a maior atração do carnaval baiano, várias vezes premiada como melhor cantora.
Inquieta e movida a novos desafios, a artista decide gravar discos apenas a cada dois anos. Exigente, perfeccionista e ousada, ela dedica um grande tempo na busca de um conceito para cada disco, numa escolha criteriosa de repertório e na experimentação de novos caminhos. Seu próximo disco, "Música De Rua", vai ser lançado com 500 mil cópias vendidas antecipadamente. Com ele, ela vai mostrar que não se tratava de fenômeno passageiro: consolida sua carreira no Brasil e conquista novos públicos no exterior. Com "Feijão com Arroz", bate novos recordes de vendas e atrai a admiração de uma parte da crítica que, sob o impacto do seu sucesso popular, não havia ainda percebido a consistência musical da artista. Um disco que passeia pelas mais diversas facetas do samba, homenageando as raízes musicais e étnicas brasileiras, com arranjos que mostram a modernidade pop das variações do nosso ritmo mais tradicional. É esse disco que leva Daniela a alcançar sucesso em países estrangeiros numa dimensão inédita para um artista brasileiro, principalmente em Portugal, onde se torna a cantora de maior vendagem de discos na história daquele país, com suas músicas permanecendo durante vários meses no primeiro lugar das paradas, e na França, onde vende mais de 300 mil cópias do seu CD e do single com a faixa "Rapunzel", tornando-se a artista do verão francês de 98.
Com "Elétrica" ela finalmente lança seu primeiro disco gravado ao vivo, atendendo a um insistente desejo dos seus fãs de ter em disco o clima eletrizante dos seus shows. Em seguida ela lança o seu mais recente CD, "Sol Da Liberdade", em que reafirma a sua paixão pelo samba-reggae, fazendo de "Ilê Pérola Negra" uma das suas mais belas interpretações. Neste disco ela canta pela primeira vez uma música de Roberto Carlos, "De Tanto Amor", que se junta à "Primeira Vista", de Chico César, como uma das mais belas gravações românticas da sua carreira.
CARREIRA INTERNACIONAL
Somente depois de consagrada no Brasil, Daniela Mercury começou a ampliar a ressonância da sua música para o exterior. Primeiro foi a América Latina, culturalmente mais próxima do Brasil, onde a artista alcançou o primeiro lugar nas rádios e começou a se tornar um fenômeno de vendagem de discos. Até hoje é a artista que mais vendeu discos na Argentina e que atraiu o maior público para um show no Uruguai - mais de 280 mil pessoas numa apresentação ao ar livre. Desde "O Canto Da Cidade" seus discos são regularmente lançados na América Latina alcançando uma vendagem significativa. Foi com "Música De Rua" que ela fez a sua primeira turnê fora da América Latina, com apresentações nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, tendo, na ocasião, batido o recorde de público na sua apresentação no prestigiado Festival de Jazz de Montreux.
Decidida a ampliar ainda mais as fronteiras da sua música, a artista fez a sua segunda turnê internacional com o show "Feijão com Arroz", aumentando o número de países e multiplicando o público conquistado em relação à turnê anterior. Mais uma vez um grande sucesso: bateu o recorde de público do "Festival de Artes Latinas" do Lincoln Center, de Nova Iorque, com lotação esgotada também nos shows em Miami e Boston. Pela primeira vez, a artista inclui a Espanha e Portugal na sua turnê européia (além dos países que já a conheciam, como Alemanha, Suíça, Bélgica e Itália), sendo que nesse último iria bater todos os recordes de público, sendo a primeira artista a atrair um público de 80 mil pessoas para duas apresentações em estádios, fora do circuito dos festivais (que costumam reunir várias atrações de países diferentes a cada dia), em shows marcados exclusivamente para a sua apresentação.
Em Portugal, ela iria se tornar a artista que mais tempo permaneceu em primeiro lugar nas paradas e a recordista absoluta de vendagem de discos: 300 mil cópias de "Feijão com Arroz". Em termos de proporção populacional, este número equivale a 3 milhões de discos no Brasil, o que estabeleceu um novo marco para o mercado da música e discos português, como a artista que mais vendeu discos (entre portugueses, estrangeiros e brasileiros) na história do país.
Faltava ainda para Daniela conquistar a França. A artista decidiu realizar um show em Paris, produzido por ela mesma, para mostrar o seu trabalho ao público e à imprensa francesa. O show lotou o teatro La Cigale e repercutiu positivamente nos meios de comunicação, despertando o interesse da televisão francesa. Entre a apresentação de Daniela em julho de 97 e a Copa do Mundo na França, em junho de 98, a artista se tornaria o maior sucesso brasileiro naquele país. Escolhida como a artista do verão pela France 2, o canal de maior audiência no país, ela iria atrair a televisão francesa para a Bahia. Uma grande reportagem sobre Daniela no Carnaval foi exibida no principal telejornal da emissora, em horário nobre, obtendo audiência recorde. As apresentações ao vivo em programas de auditório e a exibição de um clip de "Rapunzel", gravado pela TV France 2 na Bahia, além da exibição de pequenos clips de Daniela nos intervalos das transmissões dos jogos da Copa, iriam popularizar a artista no país: "Rapunzel" entrou para a lista das dez músicas mais tocadas no ano e seus shows, em lugares abertos, atraíam público médio de 20 mil pessoas.
Em junho e julho de 2000, Daniela volta a fazer outra turnê européia para consolidar a conquista do público em vários países do continente, agora com o show "Sol Da Liberdade", com estréia mundial no dia 1º de junho, em São Paulo.
Cidadã
Filha de uma assistente social, Daniela Mercury abraçou desde jovem a solidariedade e o empenho em contribuir para uma sociedade mais justa.
Seu amor pelo Brasil, tão expresso na sua arte e exaltado nos países em que se apresenta, lhe serve de estímulo para lutar contra as injustiças sociais, o abandono, a exploração sexual e o trabalho infantil.
A parceria com organizações como Unicef, Comunidade Solidária e Unesco são uma prioridade para Daniela. Em meio à sua agenda de shows, apresentações na televisão, visitas às rádios, entrevistas à imprensa, ela sempre encontra um jeito de participar das campanhas pela cidadania e justiça social.
Produtora
Daniela Mercury é uma artista sempre preocupada com a integridade de sua arte. Investiu na construção da autonomia e independência de sua carreira, condição fundamental para a sua liberdade artística. Para concretizar sua independência, fundou a produtora “O Canto Da Cidade”, da qual é dona. Neste mesmo empenho de autonomia foi criada a Páginas do Mar: uma editora de música montada por Daniela para lhe garantir o controle sobre sua obra e, assim, evitar o mau uso ou a vulgarização de suas músicas.
Com isso, Daniela Mercury decide os rumos da sua carreira e sente-se livre para assumir opções ousadas ou comercialmente arriscadas. É autônoma para realizar o seu trabalho de ação social e cidadania junto a Unicef, à Comunidade Solidária e à Unesco e, mais que tudo, mantém a sua integridade como artista.