Trabalhei muitos anos em terreno dobrado, serra do
Lajeado tenho no coração /
Uma década inteira eu trabalhei pesado, em cabo de
arado naquele sertão/
Eram dez milhas pra chega na roça, eu ia de carroça
cortando estradão/
Lá eu parava semanas inteiras, preparando a terra para
plantação/
Eu lembro de uma passada, que até hoje conto e guardo
comigo/
No mês de julho no forte da geada, lembro que eu
estava arando pra trigo/
Eu dei duas voltas contornando o quadro, parei da um
descanso pro baio e o tostado /
Ouviu o piu da coruja, eu vi um leão cara-suja saiu no
arado/
Eu não tive medo da fera faminta, pois tinha na cinta
um trinta carregado /
Dei dois três tiros pro alto, e o bicho num salto
fugiu assustado/
Eu hoje estou velho com o peso da idade, ficou a
saudade da lida na terra /
De tardezinha ouvi o inambu piando, e o tangara
cantando no alto da serra/
Do? Chico preto? tocando a viola, e o tatu na gaiola e
as linhas de espera /
Da queda da água no leito do riu, a pinga no barril e
limão na tapera/
Eu hoje me deito e acordo chorando, pois tão se
acabando parceiros de guerra/
E o lajeado não e mais sertão, o calor do verão faz na
primavera/
Não tem tangara não tem mais leão, pois nosso mundão
não e mais o que era aiai/