Filho de Laura e David, Dalvimar Gallo nasceu em 1968, em Colatina, cidade do interior do Espírito Santo. Criado numa família simples, de camponeses que viviam a dureza da lida da roça, ele foi consagrado a Nossa Senhora Aparecida quando ainda estava no ventre e é amigo dos milagres, que ao longo dos anos têm acompanhado sua história e confirmado seu ministério.
O primeiro aconteceu literalmente no início da sua vida. Com um útero de tamanho infantil e cheio de miomas, a mãe dele não podia engravidar. O casal rezou muito e fez promessa para Nossa Senhora Aparecida, padroeira da cidade de Colatina. Um médico que havia ido à Alemanha trouxe três injeções para tentar fazer um tratamento. Bastou a primeira injeção e Dona Laura engravidou.
Depois de uma gravidez de risco, Dalvimar nasceu com 8 meses de gestação e precisou passar por cirurgias para corrigir a garganta, o sistema auditivo e as vias nasais, que ainda não estavam totalmente formados. Cinco anos depois, quando ela precisou tirar o útero, os médicos não conseguiam entender como aquela gestação havia se desenvolvido até o oitavo mês e não acreditavam como aquela criança nasceu perfeita, sem nenhuma seqüela.
Desde cedo, acompanhava os pais ao trabalho todos os dias. Quando ainda era um nenê, os pais o levavam para a roça e o colocavam debaixo dos pés de café que já estavam limpos. Era uma vida muito simples, mas cheia de amor e da presença de Deus. Seu David e dona Laura sempre foram muito firmes e ativos na paróquia. Ela cantava no coral e os dois participavam dos trabalhos, quermesses e celebrações. Dalvimar cresceu nesse meio e herdou deles o amor e a vivência de uma Igreja doméstica.
Desde quando ainda era bem pequeno, gostava de ouvir o avô tocar acordeom. “A gente ia para a roça e ficava ouvindo ele tocar. Depois de tanto trabalho, a diversão era aquilo”, diz Dalvimar. Desse tempo, vem o gosto pela música e o interesse por instrumentos musicais. Aos 9 anos de idade, ele viu um primo tentando aprender violão e, observando os exercícios que o rapaz tentava fazer, percebeu que conseguia entender e tinha certeza de que conseguiria executar o exercício. Certo dia, ele pegou o violão escondido e conseguiu. Ao perceber que tinha dom para tocar, pediu ao pai um violão. Depois de resistir um pouco, seu David comprou um violão simples. Foi o bastante. Desde então o garoto saiu tocando e não parou mais.
Algum tempo depois, ele começou a aprender as músicas da Igreja e rapidamente já estava tocando algumas. Certa vez, o grupo que ia animar a missa de Natal na paróquia teve um problema e não poderia tocar naquela noite. Alguns primos que trabalhavam em movimentos e pastorais perguntaram se ele tinha condições de tocar na missa. Ele responder que sim, tocou e assumiu o ministério.
Aos 12 anos, Dalvimar foi convidado para tocar numa banda de baile e embarcou na aventura. Com isso, acabou se afastando um pouco da Igreja, pois nos finais de semana trabalhava na banda. Porém, continuou tocando nas missas durante a semana. Logo cedo, começou a trabalhar e a colocar comida dentro de casa através da música. Sempre desenvolvendo o seu dom musical, ele nunca estudou em conservatório nem fez cursos para tocar instrumentos. Sempre foi autodidata e continua sendo, pois está sempre tentando aprender a tocar novos instrumentos.
No dia 21 de dezembro de 1991, aos 23 anos, em Colatina, Dalvimar se casou com Wanderléia, com quem tem dois filhos. André, o mais velho, nasceu em 1993. Cinco anos depois, veio Gabriel, o caçula da família.
Após a vasta experiência tocando nas bandas de baile, Dalvimar trilhou um caminho de sucesso na música secular. Tocou em vários lugares, com grandes nomes da MPB, trabalhou com alguns dos mais conhecidos produtores musicais do país, como Sérgio Dias, da banda Os Mutantes, e Márcio Miranda, da TV Globo.
Em 1997, lançou o primeiro disco com a banda Dallas Company, com a qual alcançou bastante sucesso, fez grandes viagens, ganhou dinheiro e fama. A última faixa daquele CD é uma música cristã, versão do cantor e compositor Marcos Pavan. Por causa disso, o disco passou por várias pessoas, o CD acabou chegando nas mãos do cantor Dunga (Canção Nova). “Como estava para acontecer o primeiro Rodeio com Cristo, na Canção Nova, alguém passou o meu telefone e ele começou a me ligar, dizendo para eu largar tudo e ir para Cachoeira Paulista viver só de música católica. Eu achei um absurdo o que ele estava falando e bati o telefone na cara dele: viver de música católica?”, lembra Dalvimar.
Apesar de aparentemente absurda, a proposta de Dunga agiu como uma semente, germinando o terreno, transformando o coração e preparando para a vida nova que ia brotar. Aquelas palavras ficaram incomodando e levando-o a descobrir as coisas que precisava mudar.
No final de 98, quando a banda estava no auge sucesso, prestes a lançar o segundo CD, Dalvimar recebeu um forte chamado de Deus: “eu e minha esposa, Wanderléia, estávamos rezando muito por tudo o que estava acontecendo e aí veio a passagem de Colossenses 4, 17: ‘Veja bem o ministério que recebeste e usa-o todo em nome do Senhor’. Ficamos muito felizes, demos pulos de alegria pela casa e a partir daquele dia largamos tudo”, diz Dalvimar.
Ninguém da banda entendeu nada. Dalvimar doou ao sócio toda a parte financeira e de direitos autorais do grupo. Também abriu mão da propriedade do nome da banda, que era o mais caro de tudo. “Ali se concretizou uma palavra de São Paulo: ‘Tenho tudo em conta de esterco’ (Fil 3,8b). Todo o sucesso o aporte financeiro que alcancei com a banda não valiam mais nada diante daquele chamado”, afirma.
Autor dos grandes sucessos da banda Anjos de Resgate e de várias canções que ficaram marcadas no coração do público nas vozes de outros artistas, entre eles o Pe. Marcelo Rossi, Dalvimar Gallo é considerado um dos maiores compositores da música católica. Porém, apesar da vasta experiência musical, a história dele como compositor é relativamente recente. Curiosamente, ele sempre teve muita dificuldade para compor.
Até o final de 1998, quando decidiu dedicar o seu dom musical exclusivamente para a evangelização, Dalvimar nunca havia feito uma canção. A partir do momento em que optou por ser missionário, Deus deu o dom e ele não parou mais.
Muitas pessoas acham que a primeira composição de Dalvimar Gallo foi a música Anjos de Resgate. Na verdade, foi Quando os Anjos Cantam, que foi também a primeira experiência forte dele com Deus. Depois disso, Dalvimar compôs quase todas as faixas do álbum Deus está no Ar, primeiro trabalho da banda, e ainda sobraram várias outras canções, que entraram no repertório de outros discos do grupo.
Durante a finalização do CD, o Eraldo Mattos deu a idéia de colocar a participação do Dunga, já que ele foi o grande amigo que, em 1997, ligou para o Dalvimar, propondo que largasse tudo e fosse viver só de música católica.
Contudo, no repertório não havia nenhuma música cujo estilo combinasse com a participação dele. Estávamos fechando o disco quando pedi um tempo e viajei para Colatina. Nesse “retiro”, surgiram três músicas: Amigos pela Fé, Glórias ao Reio Jesus e Chamando Deus de Pai. “Liguei para o Eraldo e perguntei: em vez de entrar uma música, não cabem três? Ele aprovou e essas canções entraram na finalização do CD. Gravamos Amigos pela Fé com Dunga e foi maravilhoso, choramos muito”, lembra Dalvimar.
Quanto ao método que usa para compor, Dalvimar afirma não ter uma receita. Segundo ele, as canções nascem, muitas vezes, nos piores momentos, de dor, de provação. “Parece que na hora em que está espremendo para sair o sangue, saem também as músicas”, afirma.
Os lugares e os momentos em que surgem as composições também são variados. Muitas vezes, a inspiração vem quando está dirigindo ou quando está na praia. Já acostumada com as surpresas, a esposa do cantor, Wanderleia, sempre carrega no carro ou na bolsa caneta e papel.
Mas hoje em dia a tecnologia também ajuda bastante. “Os celulares hoje fazem gravações de áudio e têm sido a minha salvação”, revela. O cantor conta que a música Misericórdia, do repertório do CD Rezando com um anjo, primeiro disco solo do artista, está toda gravada no celular. “Fui gravando pedaço por pedaço, todas as idéias de arranjo estão lá. Depois passei para o computador e finalizei”. A esposa do músico conta que algumas vezes ele usou a secretária eletrônica para gravar as idéias de uma composição. “Ele já chegou a ligar para o meu celular e pedir para que eu não atendesse, que deixasse o telefone tocar até entrar o sinal da secretária”, diz, Wanderléia.
Como todo grande compositor, Dalvimar tem vários parceiros. Entre todos, dois se destacam: Marcos Pavan e Adelso Freire.
“Meu grande parceiro é o Marcos Pavan. Muitas vezes a gente compõe por telefone. Ligo para o Pavan e a gente fica cantarolando, dizendo o que pode ser, o que cabe e o que não cabe, o que poderia acrescentar ou tirar. E muitas vezes o resultado foi uma conta de telefone enorme no final do mês (risos). Já fizemos músicas pelo MSN e também já aconteceu muito de eu acordar durante a noite e fazer uma parte da letra. No outro dia, eu fazia a segunda parte e ligava para o Pavan. Ele também havia feito e quando comparávamos o que tínhamos feito, as duas composições estavam muito parecidas. É uma afinidade muito grande, é coisa de Deus mesmo”, afirma.
“Já o Adelso é maravilhoso, ele faz todo o trabalho melódico e eu entro com a letra. Ele faz melodias fantásticas e cheias de unção. Assim que ouço, já me vem inspiração da letra”, conclui.
É muito difícil para qualquer compositor eleger a sua música preferida, assim com é difícil para um pai ou uma mãe ter preferência por um dos filhos. Porém, Dalvimar Gallo tem uma preferida: Chamando Deus de Pai. Segundo ele, isso se deve à experiência que teve com essa canção. “Toda vez que canto, ela me leva ao passado, me deixa todo mexido por dentro”, revela.
O músico conta que quando compôs essa música, estava num momento muito ruim, passando por um deserto. “Eu sentei com o violão, queria chorar minhas mágoas e comecei a chorá-las com Deus: ‘Pai, eu sei que o teu silêncio só me basta...’. Fiz uma lamentação e depois, o refrão.
Quanto terminou o música, ficou feliz por cantar o que muita gente gostaria de falar para Deus. Mostrou para o parceiro Marcos Pavan, que disse: “está bom, mas cadê a resposta de Deus? Você tem que dar a Deus o direito de resposta”. Arrasado, voltou para casa, se trancou no estúdio e começou a chorar. As lágrimas foram molhando o papel, borrando a tinta e deformando as letras. Então começou surgir a resposta de Deus. “Eu fui só escrevendo. Incrível que até as rimas ele me deu, não tive que me preocupar nem com isso. Por isso, essa música é muito especial para mim “, explica.
Em 1996, Dalvimar e mais algumas pessoas iniciaram um trabalho de recuperação de dependentes químicos. O grupo foi aumentando e começaram a aparecer voluntários. Nessa época, cerca de 40 dependentes químicos eram beneficiados pelo serviço do grupo. Apesar de crescer muito, a obra não tinha nome.
Certo dia, um dos recuperandos pediu para ter uma reunião com o conselho do grupo. Achando que se tratava de algum problema, o conselho se reuniu com o rapaz, que falou: “em nome de todos os recuperandos, venho aqui dizer que vocês são anjos na nossa vida, nos devolveram à sociedade, à vida, às nossas famílias. Vocês são anjos de resgate em nossas vidas. Daí surgiu o nome do grupo.
Em 1999, Dalvimar Gallo e Marcos Pavan tiveram a idéia de fazer um CD com o objetivo de ajudar financeiramente a obra. Quando o disco estava pronto, aconteceu da cantora Adriana estar em Colatina. “Ela foi na minha casa, ouviu as músicas e pediu para mostrar o CD para Eraldo Mattos, da gravadora Codimuc. Então ela levou o CD e fez Eraldo sentar junto com ela para ouvir. Ao terminar, ele ligou na minha casa. Eu e o Pavan, na extensão, ficamos ouvindo. Eraldo falou algumas palavras sobre um novo tempo de Deus”, relembra o cantor. Isso aconteceu em janeiro daquele ano. Em fevereiro, Dalvimar já estava morando em Cachoeira Paulista (SP). A partir daí começou o ministério de música Anjos de Resgate.
A obra de recuperação de dependentes químicos ainda existe, continua crescendo e Dalvimar continua ajudando financeiramente. O grupo comprou um terreno e já está com mais de 100 recuperandos. “É um grupo que ainda vai crescer muito, porque é uma obra de Deus”, afirma Dalvimar.
Ao longo desse tempo, a banda Anjos de Resgate tem percorrido todo o Brasil, realizando uma média de 120 shows por ano. O lançou cinco CD’s e um DVD, já vendeu mais de meio milhão de cópias e conquistou 5 discos de ouro, 1 disco de platina e o primeiro DVD de ouro da história da música católica.
Em 2007, a banda gravou uma das faixas e foi responsável pela produção musical do CD Bendito o que vem em nome do Senhor, álbum oficial da visita do Papa Bento XVI ao Brasil. O grupo também tocou durante o encontro do Papa com a juventude, em maio de 2007, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo.
“O Anjos de Resgate, desde que começou até agora, tem sido maravilhoso para mim, é fantástico fazer parte dessa missão de amor. Quantos não foram libertados, curados e alimentados pela palavra? Saber que faço parte de uma coisa grandiosa, que leva as pessoas para o céu não tem preço. O Anjos de Resgate é uma missão e agora, com esse trabalho solo, sinto-me enviado pelo Anjos para uma outra missão, porque Deus sempre multiplica os talentos. Novos frutos vão surgir e eu fico grato a Deus por me fazer um novo chamado, para que as pessoas possam usufruir de mim de outra forma”, diz Dalvimar.