Do Fado espera-se que traduza o sentimento trágico da vida: o sofrimento, a saudade e a impotêntia perante o destino. A tradição, já longa, do fado, depositou algumas ‘fórmulas’ para dar voz a esses sentimentos, cuja invariável repetição tem conduzido à delapidação desse tesouro expressivo, ao seu inevitável esvaziamento emocional, ao sobrevoar das palavras pelos cantores. O caminho de Cristina Branco é outro.
Sem procurar uma ruptura ingénua com a tradição, antes procurando o que nela há de melhor (ouçam se alguns dos “clássicos” por ela cantados), Cristina Branco revitaliza essa tradição pela autenticidade da sua interpretação. A voz e a sensibilidade interpretativa de Cristina Branco procuram o difícil convívio dos textos com a musicalidade do fado, tentando encontrar um caminho expressivo que torne música e letra inseparáveis no sentir.
Nascida e criada muito longe das casas de fado de Lisboa, nada na vida de Cristina Branco indicava que o seu destino seria o fado.
Como acontece com quase todos os jovens portugueses nascidos depois da Revolução dos Cravos, os seus interesses musicais passavam pela canção popular, pelo jazz, pelos blues, pela bossa nova, mas não pelo fado. No seu entender, esse era o género de uma outra geração mas as suas certezas ficariam definitivamente abaladas no dia do seu 18° aniversário, quando o seu avô escolheu para prenda o álbum Rara e Inédita, de Amália Rodrigues, a mais importante voz de Portugal do século XX.