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Pé No Estribo

Cristiano Quevedo

Era amizade de infância
Quando eu era piá de estância
Guri de cuida cavalo.
Eu assobiava uma marca
Quando cantavam os galos,
Tirei pra mim aquele potro
Um não vinha sem o outro
Cortando a vida em astilha.
O resfolego do pingo,
O sono encima da encilha,
Era um abraço a lo largo
Prá dois loco sem família.
No lombo do meu cavalo
Tive os mais lindos regalos.
Um dia uma lei da estância
Mando vende o meu amigo
Desde então ninguém me vê,
Enforquilhado no estribo!

Um dia partiu o pingo
Se foi não me lembro quando,
Fiquei banido lá fora
Era um bandido sem bando,
Eu era um pé sem espora
Com a vida me atropelando.

Saia e bebia uns vinho
Prá ver a vida voando
Te via pelo caminho
Perdido me procurando,
E não tem nada mais lindo
Do que um amigo voltando.

Por isso digo aos meus dias
Que escorrem pelo gargalo
-vou viver com o pé no estribo
Quando encontrar meu cavalo!

Cismo e proseio solito
Quando uma gana me puxa,
Uma saudade avoenga
Me atenta, se faz de bruxa,
Mas só quem teve um cavalo
Conhece vida gaúcha!

A cerca guarda no grampo
Alguma crina de cola,
Gaúcho não anda a pé
Se anda não se consola,
Até a lembrança do potro
Me deixa um tanto pachola

O potro era da fazenda
Reiuno mesmo só eu,
Que passo a vida encilhando
Cavalos que não são meus,
E quando ganho um relincho
Lhes digo, -graças a deus!

Por isso digo aos meus dias
Que escorrem pelo gargalo,
-vou viver com o pé no estribo
Quando encontrar meu cavalo!

O patrão vendeu o potro
Como quem apaga um pucho,
Um peão nunca diz nada
Sentir saudade já é um luxo
Anda um cavalo esta hora
Com saudade de um gaúcho

Me deixem seguir buscando
Por estes campitos ralos
Dormir encima da encilha
Só pra acordar com os galos
E andar cantando o rio grande
Só pra esperar meu cavalo!

Por isso digo aos meus dias
Que escorrem pelo gargalo,
-vou viver com o pé no estribo
Quando encontrar meu cavalo!

Composição: Elton Saldanha





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