Ele era o mais poderoso
Que criava e vendia boiada
Lá pras bandas do Rio do Peixe
Sua marca era a mais afamada
Sua vida era a vida do gado
E o gado era a sua família
Jamais esperou que o destino
Prepara-se tamanha armadilha
Com cinqüenta e três anos de idade
Galopando e juntando o seu gado
Na cerca de uma divisa
O seu dia estava marcado
A menina, sorriso criança
No mourão da porteira subiu
Sorrindo fazendo acenos
No meio do gado caiu
E por ser só vacas leiteiras
Boiadeiro ficou precavido
Correu socorrer um bezerro
Que recém havia nascido
Esquecendo a pobre criança
Que pedia socorro em vão
Pra ele um boi era dinheiro
E a menina, nenhum tostão
Depois de salvar o bezerro
Correu socorrer a criança
Que sem vida no chão estendida
Percebeu que não tinha esperança
Pisoteado também pelo gado
Carregado por outro peão
Pois teve a perna cortada
A vida lhe deu a lição
No seu leito ouvindo o berrante
Do ponteiro chamando a boiada
Aos poucos foi amofinando
E assim terminou a jornada
Sua alma não teve descanso
O remorso não permitiu
Cada um recebe da vida
O que na vida construíu