Sempre de manhã
Com chuva o com Sol
Mesmo com frio ou nevoeiro
De ruela em ruela
Ouvíamos gritar
Mulheres, chegou o ferro-velho
Todas as manhãs
Te víamos chegar
Com um grande saco as costas
Um charuto apagado
O fato esfarrapado
A boina e as alpargatas
E sempre, sempre seguido
Pela canalha miúda
Eras a grande atracão
Tu, o teu saco e a canção
Sou o ferro-velho
Compro garrafas, papéis
Compro trapos, roupa usada
Guarda-chuvas, móveis velhos
Sou o ferro-velho
Os miúdos gritam e cantam
Mau, já começo a chatear-me
Não lhes disse a vossa mãe
Que eu sou o homem do saco?
E até à noite assim
De ruela em ruela
E de taverna em taverna
Com os teus papéis
Encharcado em vinho
Voltarás à tua casa
E voltas feliz
Porque todo compraste
O peixe, o vinho, uma vela
E o pouco de amor
Que te deve ter dado
Qualquer rameira velha
Sem tempo para pensar
Toca a dormir. Sopra a vela
E amanhã pelo mundo girar
Tu, teu saco e a canção