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Biografia de Restos de Nada

Restos de Nada foi a primeira banda de Punk Rock brasileira, formada em 1978 em São Paulo.

As origens da banda remontam o pré-punk brasileiro, mais precisamente a turma roqueira da Vila Carolina na Zona Norte de São Paulo, local onde o movimento punk brasileiro fez seus primeiros acordes. Criada durante a efervescência política da época, buscava no existencialismo uma razão de espantar seus fantasmas e transformar seus medos em atitudes contra o "status quo" imposto pelo regime militar que caçava impiedosamente seus inimigos.

O guitarrista Douglas Viscaino tocava numa banda-projeto que ele criou, chamada Organus e ensaiava nos telhados da Vila Siqueira ou onde pudesse, e tocava blues e rock pesado de sua autoria. A Organus foi permanecendo no meio roqueiro da Vila Carolina, apesar da aversão de todos, loucos por fitas e discos, à epoca.

Com sua aproximação com a turma da Carolina, Douglas convidou seu amigo e colega de escola Clemente para sua banda. Mais tarde, entrou Ariel e passaram a ensaiar na casa do Douglas com o baterista Carlos "Charles", outro roqueiro que comparecia às festas da turma da Carolina.

Charles tocava alguma coisa de violão, piano, além de bateria e era quem tinha melhor conhecimento musical naquele contexto pré-punk. Tinha uma formação musical mais apurada dentro da MPB engajada e, empolgado com a nova sonoridade do punk rock, decidiu participar dessa nova forma de se fazer Rock'n’Roll.

O som que embalava a galera no fim dos anos 70 e início dos anos 80 na região, eram bandas como The Stooges e MC5, que definiram o estilo do Restos de Nada.

Já tocando Punk Rock e com o nome de Restos de Nada, fizeram um show no Construção, na Vila Mazzei, um dos poucos salões de Rock que existiam na época, no final de 1979, com o AI-5 e o N.A.I. (Nós Acorrentados no Inferno). Após esse show, Clemente sai da banda e vai tocar no N.A.I. e sugere que seu nome mude para Condutores de Cadáver. Irene assume o contrabaixo, e em 1980 participam do festival da extinta TV Tupi, o Olimpop.

No final de 1980, com a saída da baixista Irene e do baterista Charles, a banda se dissolveu.

Douglas, Ariel e Irene juntaram-se novamente para formar a banda Desequílibrio, ensaiando na Vila Carolina, às vezes na mesma garagem do grupo Juízo Final, também da Freguesia. O fim do Desequilíbrio coincide com a saída de Douglas e Irene do movimento punk e com a entrada do movimento para as mídias da época, com o evento O Começo do Fim do Mundo, no SESC Pompéia em novembro de 1982, e a entrada do Ariel para os Inocentes banda formada por Clemente e Callegari após o final da Condutores de Cadáver.

Douglas também criou uma banda instrumental nos anos 80 chamada Peixe Solúvel, sem muita repercussão, e o Disciplina com uma sonoridade pós-punk, com Callegari, já ex-Inocentes, e se apresentaram várias vezes no Madame Satã. Mais adiante, formou com Irene, agora no vocal, a banda Alma de Andróide que seguiu no underground até o ano 2000. Em 1988 Ariel forma a banda Invasores de Cérebros, na qual é o vocalista até hoje.

Em 1987, Clemente, Charles, Ariel e Douglas se reuniram para gravar as músicas do Restos de Nada em um álbum homônimo, lançado pela Devil Discos. No final do álbum há um trecho de uma gravação do show no Construção de 1979, e da apresentação no Olimpop, na TV Tupi, em 1980.

Em 2001, Douglas e Ariel se reúnem novamente e a banda volta com Luiz no baixo e Cuga na bateria. Nesse mesmo ano lançam o álbum Restos de Nada II, que reúne gravações feitas com um gravador de K7 com a banda tocando ao vivo em um terreno baldio na Vila Carolina em São Paulo, em 20 de setembro de 1980, e quatro músicas inéditas ("Eu Tenho Medo", "Eles Vem e Vão!", "Opressores Não Mais!" e "Pré-História"), gravadas em julho de 2001 no estúdio Kuaker em São Paulo.

Em 2008, já com Douglinhas no lugar de Cuga na bateria, lançam um DVD gravado ao vivo no Hangar 110 em São Paulo.

A banda existe como um projeto, fazendo shows com o objetivo de resgatar uma época, mostrando para quem não viu, a intensidade do punk rock dos anos 70, e não pretendem gravar material novo, além do gravado em 2001.

O Restos de Nada deixou um grande legado em termos de composição musical, com um diferencial existencialista e revolucionário nas letras e um som mais elaborado musicalmente, sendo referência para as bandas punks brasileiras que vieram a seguir.