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Ciranda Mei-de-feira

Beto Brito

Quero saber de vocês onde foi que eu nasci
eu sou um pé de poeira me criei e aprendi
cantiga de lavadeira meia vida já vivi
nesse lugar eu fui criado ganhando pouco dinheiro
vendi boneco de barro lamparina e candeeiro
isqueiro e papel de cigarro depois virei romanceiro

tem chuveirada de mangueira, pra tirar incrisiado
o cabra que tava mofino fica de novo empinado
as moça num bate o pino tá feito o repinicado
caldo de cana na hora, pão doce, pastel de vento
tripa sequinha com frita, pauzinho de cata-vento
língua-de-sogra e apito, garrafada e condimento

traíra feita no côco, carne seca com farinha
tem goiabada, cascão, ensopado e dobradinha
churrasquim de coração, baião-de-dois com sardinha
caderneta de pindura, resto de fruta pisada
tampa de radiador, saco de lona dobrada
suvaqueira no calor, lambida, cão e dedada

fazer a feira é um vício, é como rezar todo dia
é festa em pé-de-balcão, é tempo de cantoria
é conta em papel de pão, é uma grande alegria
quem nunca viu uma feira perdeu metade da vida
aquele cheiro de cravo de carne boa cozida
de couro de limão bravo, de fruta doce caída

a cobra do bonequeiro, ova de curimatã
imbira, bule, coentro, papel azul de maçã
ferrolho de fora e de dentro pingado com arribaçã
sem feira morre o nordeste dela é que vem alegria
pra sustentar o batente que a teia do tempo
num tem frouxo nem valente que num ouça romaria

e venha de onde vier com toda sinceridade
algum trocado no bolso, gastar inté a metade
feijão arroz e sal grosso mais que isso é vaidade
e viva a cultura da feira e o que de bom ela trás
salve todos rabequeiros violeiros o outros mais
foram os grandes herdeiros do cordel dos ancestrais






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