“Nestas noites olorosas
Quando o mar, desfeito em rosas,
Se desfolha à lua cheia
Lembra a ilha um ninho oculto
Onde o amor celebra em culto
Todo encanto que o rodeia
Nos canteiros ondulantes
As nereidas incessantes
Abrem lírios ao luar
A água em prece borborinha
E em redor da capelinha
vai rezando o verbo amar.
II
Jardim de afetos
Pombal de amores
Humildes tetos
De pescadores
Se a lua brilha
Que bem nos dá
Amar na ilha
de Paquetá
III
Pensamento de quem ama,
Hóstia azul, fervendo em chama,
Entre lábios separados...
Pensamento de quem ama
Leva o meu radiograma
Ao jardim dos namorados
Onde é esse paraíso
O caminho que idealizo
Na ascensão para esse altar
Paquetá é um céu profundo
Que começa neste mundo
Mas não sabe onde acabar...
IV
Sobre o mar de azul rendado,
Que é toalha de um noivado
Surge a ilha – taça erguida.
E o luar – vinho dourado
Enche a taça do passado
Que embriaga a nossa vida!
Ai, que filtro milagroso,
Para a mágoa e para o gozo
Para a eterna inspiração!
O luar, na mocidade,
Abre as rosas da saudade
Dentro em nosso coração”.