BADEN POWELL de Aquino (nascido a 6 de agosto de 1937 em Varre-Sai no então estado da Guanabara (atual Rio de Janeiro) e morto na capital fluminense a 26 de setembro de 2000) foi um dos maiores violonistas e intérpretes instrumentais do Brasil, quiçá do mundo. Seu pai, que também era violonista e tinha por seu maior hobby o escotismo, deu ao filho o sobrenome do célebre maçom e fundador dos escoteiros.
Baden era canhoto mas dizia, inclusive ao seu filho (também canhoto e violonista) Marcel, que se não havia piano para canhoto não existia razão para haver violão para canhoto. O resultado é que sua mão mais ágil, a esquerda, produzia fraseados versáteis e rápidos, capazes de certa vez impressionar o considerado melhor violonista francês Sacha Distel que chegara a um estúdio na França para uma gravação e ouvindo o som da última gravação até então perguntara ao técnico de som “quantos violões estavam tocando naquela fita”. Baden saíra do estúdio sozinho alguns minutos antes. É claro que ele foi atrás do brasileiro…
O violonista iniciara seus estudos cedo, antes de completar a primeira década de vida, tomando aulas com o violonista consagrado Meira. A princípio erudito, tempos depois iniciou-se no popular dedicando-se ao choro, ao samba, as serestas, ao samba-canção, ao jazz e quando a sorte lhe sorriu influenciou a Bossa-Nova, já famosa pelas “batidas em concha” de João Gilberto. Se esse último era a singularidade no violão naquela época, Baden era a pluralidade fazendo questão de desfilar pelos estilos com a fluência do cosmopolita que foi!
Seu violão influenciou muita gente promissora no violão, famosa ou não, como Raphael Rabello, Yamandú Costa, Toquinho, Marcel Powell, Ronaldo Rayol, Guinga e Egberto Gismonti, edificando, não sozinho é claro, a escola das “chord-melodies”, em que na execução a harmonia e a melodia do instrumento caminham amalgamadas.
Marcus Vinitius da Cruz de Melo Moraes, ou fantasticamente Vinicius de Moraes (nascido a 19 de outubro de 1913 na então capital federal, Rio de Janeiro, estado da Guanabara e morto a 9 de julho de 1980 também na capital fluminense, agora não mais federal), foi um homem plural, como o definira o amigo Antônio Cândido: se fosse singular seria apenas Vinicio de Moral. Aí não seria Vinicius…Aliás, Vinitius só foi assim chamado até os nove anos. Quem lhe dera esse nome foi o avô, homem tradicional, maçom e que “encontrou” nesse nome justificativas místicas.
Morou com sua família na Ilha do Governador durante a infância mas já na fase adulta dividiu-se no Rio entre a Gávea e Ipanema.
Por toda a vida o Poetinha colecionou títulos, cargos, amigos, mulheres e parceiros. Poeta, letrista, contista, cronista, diplomata, jornalista, articulista, crítico e censor-oficial de cinema, boêmio, conquistador, boa-praça, cosmopolita, praticamente um cidadão do mundo, não teve medos nem receios de deixar algo ou alguém para trás quando algo que lhe trouxesse novo desafio, nova vontade de viver, nova paixão. Foi assim com as suas nove esposas (pelo menos as auditadas pelos biógrafos). Foi assim com as cidades em que morou, com os parceiros com quem destilou obras e com seu sustento: quando cansou da gravata abandonou a diplomacia típica do Itamaraty, muito embora o Itamaraty (do AI-5) houvesse também o abandonado como a outros diplomatas por suas direções ditas boêmias, amorais e pederastas. Foi nessa situação que Vinicius rumou a um encontro dos amigos engravatados com uma garrafa de Cachorro Engarrafado (uísque), como costumava chamar a bebida, e alardeou: - Olha…eu sou o bêbado, viu?!
Se jovem já alardeasse com certa pompa o sucesso como estudante de Direito, Poeta consagrado, amigo de Manuel Bandeira, dos irmãos (Haroldo e Paulo) Tapajós, Mário e Oswald (ambos de Andrade) Villa-Lôbos entre outros e se tornasse determinado momento “figura de repartição”, com o passar dos anos foi-se afastando dessa vida (mas não dos amigos!) e apresentou-se como letrista e compositor sério. Foi quando Aracy de Almeida, a preferia da Noel Rosa gravou um samba com harmonia, melodia e letra de sua autoria e de Antônio Maria, o famoso cronista.
Anos depois (1954) produz com Tom Jobim a peça Orfeu da Conceição (abrasileirando tema helênico do Iniciado Orfeu e a bela Eurídice). Apresentado ao jovem pianista por Lúcio Rangel (que por só gostar de samba apelidou perjorativamente as músicas da década seguinte de “bossa-nova”), Vinicius incumbe o músico de criar as músicas para o teatro. Está aí o embrião do que pode ter sido o turbilhão cultural nacional da segunda metade do século vinte no Brasil. A peça fez sucesso onde foi montada e ao virar filme (do diretor francês Camus como Orfeu Negro) recebeu prêmios Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (franco-brasileiro) e Palma de Cannes. A essa época Vinicius e Tom já haviam criado diversos sucessos como Garota de Ipanema, a Insensatez, Se todos fossem Iguais a Você, et cetera.
Mas é em 1958 que os dois reúnem-se para escrever canções para que a jovem Elisete Cardoso cante no disco “A Canção do Amor Demais”. É nesse disco que um jovem violonista revela-se com uma batida nunca pensada: João Gilberto. Está feita a bossa-nova!
Vinicius comporia canções depois com diversos parceiros: Francis Hime, Chico Buarque (filho do seu amigo historiador Sérgio Buarque de Holanda, autor de Raízes do Brasil e entre outros Visão do Paraíso), Pixinguinha, Edú Lobo, Carlos Lyra, Baden Powell e seu último e principal parceiro, Toquinho. Com cada um Vinicius atravessou suas mulheres, paixões, fases políticas e estilos musicais, mas sempre foi mestre em, homem-plural que era, mesclar tudo e todos em encontros que a memória não deixa seus amigos esquecerem e que não deixam esse que vos escreve sentir vontade de ter vivido aquilo, mesmo que só por um momento!
O encontro de Baden e Vinicius dá-se no início da década de 60 inaugurando a parceria com Samba da Bênção. Logo depois gravam os Afro-Sambas, cheio de boas intenções culturais, mas criticados em parte por alguns adeptos do puro Candomblé. Esse disco conta com canções fantásticas, inovadoras e com forte carga emocional como Berimbáu e o Canto de Ossanha.
Após a morte de Vinicius, com os direitos pelo disco adquiridos por inteiro, Baden, convertido em cristão evangélico pentecostal, retirou de circulação os Afro-Sambas. Porém, bem antes disso esse disco influenciou muita gente que faz ponte entre a Música e as religiões afro-brasileiras e porquê não indígenas. São cantoras e cantores como Clara Nunes, Jorge Ben (Jor), Itamar Assumpção, Lenine, Caetano, Gilberto Gil, Chico Science e o Mangue Beat, Rita Ribeiro, Margarete Menezes, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Chico César, Zeca Baleiro, Céu e muitos outros!
Viva Baden e Vinicius!!!
“…A vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida…”
Editado por vinaguerrero em Jul 27 2010, 7h16
Fontes
Wikipedia, conversas de bar e biografias (O Violão Vadio de Baden Powell; Vinicius de Moraes: O Poeta da Paixão; Ela é Carioca; Noites Tropicais; Chega de Saudade)
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