Ary Barroso e o Estado Novo
Ambicioso, Ary Barroso buscava deixar um legado para as futuras gerações, indo além do sucesso imediato das canções e tentando atingir algo mais permanente e emblemático da brasilidade.
O país vivia, no início dos anos 1940, o Estado Novo e, ao mesmo tempo, a Segunda Guerra Mundial fazia os americanos, por razões estratégicas, se aproximarem do Brasil, inclusive no plano cultural e musical.
O viés "exótico" do cinema hollywoodiano e o populismo do governo de Getúlio Vargas foram o cenário ideal para essa música que exaltava as belezas e riquezas do Brasil, fugindo dos temas da malandragem, bebida, pobreza e amores fracassados.
Assim, fazendo um tipo de música ufanista, que combinava com o espírito do nacional-socialismo de Hitler, o qual inspirava o Estado Novo de Getúlio, Ary Barroso teve a oportunidade de se tornar conhecido no mundo inteiro, através das músicas que compôs para os filmes de Walt Disney.
Coisas de Ary
Quando estou matando o tempo num bar, só vou ao piano quando quero. Não estou ali para divertir ninguém. De forma que, por favor, não insistam para que eu toque. É horrível
João Gilberto gravou Ary Barroso logo em seu disco de estreia, em 1959. "O próprio Tom Jobim", lembra o crítico Tárik de Souza, "regravaria incontáveis vezes "Aquarela do Brasil", em versões intimistas que exploravam recônditos achados harmônicos e melódicos do original".
Composto em 1939, em pouco tempo o samba-exaltação, Aquarela do Brasil passou a figurar como hino nacional alternativo. Foi gravado centenas de vezes em todo o mundo, a primeira delas, na voz de Francisco Alves, com arranjo de Radamés Gnattali.
"Hora H" era o nome do programa, criado por Ary Barroso, na Rádio Cosmos, em SP.
"Dá nela, como todas as minhas composições nasceu em um minuto: um lápis, uns acordes ao piano, um rancho passando pelo rua..."
[ Marcha carnavalesca - 1º prêmio do concurso "A canção mais popular do carnaval de 1930" - Jornal O Globo e Casa Carlos Whers ]
Depoimento de Ary Barroso em 22 de janeiro de 1930 ]
Ary Barroso morreu em 9 de fevereiro de 1964, em pleno Carnaval, momentos antes da escola de samba Império Serrano entrar na avenida com um samba-enredo em sua homenagem.
Em 1933, Ary conseguiu emprego na Rádio Philips e descobriu sua vocação para comandar programas de sucesso, o que faria mais tarde também na televisão, com Calouros em Desfile e Encontro com Ary. Intransigente com quem tivesse gosto ou opinião musical diferentes dos seus, seus programas revelaram nomes que fariam história na música brasileira, como Lúcio Alves, Luiz Gonzaga, Elza Soares e Elizeth Cardoso.
Que...
Em 1930 a Casa Edison, no Rio, organizou um concurso de músicas carnavalescas que foi vencido por Ary Barroso com a música "Dá nela". O prêmio foi 5 contos de réis. Conta-nos Nestor de Holanda, em seu livro Memórias do Café Nice1, que foi com esse dinheiro que Ary casou-se.
Estava na final do campeonado sul americano e a radio Mairink Veiga tinha comprado os direitos de exclusividade cujo narrador era Oduvaldo Cozzi . Meu pai não se conformou e através de seus amigos argentinos armou um plano para que pudesse também colocar a Radio Tupi no ar transmitindo o mesmo jogo. Na semana do jogo a Tupi começou a anunciar a transmição. A Radio Mairink Veiga começou então a tomar providencias para que isso não acontecesse e até as maiores autoridades Uruguais foram acionadas e de principio meu pai foi proibido a entrar no Uruguai . A policia atenta e o jogo começou e a Radio Tupi tambem narrando. O que eles não contavam era que meu pai tinha ido para Buenos Aires e de la ouvindo a narração do speaker portenho repassava o que ouvia para o Brasil. Teve tanta sorte que a gaitinha soou primeiro anunciando o primeiro gol do jogo. Esta é uma das muitas historias de meu pai pouco conhecidas. Mariuza Barroso.
Sérgio Cabral conta no livro "No tempo de Ari Barroso" que:
"...Nos seus últimos dias Ary telefona do hospital
para o amigo David Nasser:
-Estou me despedindo. Vou morrer.
-Como é que você sabe, Ary?
-Estão tocando as minhas músicas no rádio. "
Ary Barroso foi eleito o segundo vereador mais votado do Rio de Janeiro em 1946.
Ary Barroso foi Vice-presidente do Departamento Cultural e Recreativo do Clube de Regatas Flamengo(1960).
" Eu Sonhei"[ Samba carnavalesco - 3º prêmio no concurso de carnaval em 1940 - intérprete Silvio Caldas com a Orquestra Odeon - Odeon 11.178B ]
1935 - Inquietação [ Samba - Odeon 11.255A - Intérprete Silvio Caldas com a Orquestra Odeon, regência de Simon Bountman - Incluída no filme "Favela dos meus amores" ]
Música Eu sou do amor - [ Samba carnavalesco - concorreu ao concurso da revista "O Cruzeiro", com o nome da noiva - Yvonne Arantes, sob o pseudônimo "Boy" - 2º lugar - gravação Columbia 5.188B - Intérprete Januário de Oliveira com Jazz Band Columbia (Gaó, Jonas, Petit, Zezinho, Sutte, Grany & Jararaca) - lançada em março de 1930 ]
Precursor da bossa nova
Sua preocupação em divulgar o "samba autêntico", nos anos 1950, levou Ary Barroso a detestar os "acordes americanos" no samba. Ele brigava, por exemplo, para que sua composição "Risque" (1952), um samba lento, não ganhasse batida de bolero.
Crítico da bossa nova, que para ele não era autenticamente nacional, o autor de "É luxo só" (1957, com Luís Peixoto) foi na verdade um precursor do movimento, tendo sido grande influência para os maiores nomes do gênero, Tom Jobim e João Gilberto.
Ave Maria
Ary Barroso - 1958
[ Inédita - especialmente composta para o casamento de sua filha Mariúza - interpretada na Igreja por Hélio Paiva ]
[ Em dezembro de 1967 foi executada na Igreja de N. S. da Misericórdia no casamento da afilhada do compositor, Maria da Conceição, filha de seu maior amigo José Maria Scassa ]
Filho do deputado estadual e promotor público João Evangelista Barroso e Angelina de Resende. Aos oito anos, órfão de pai e mãe, Ary foi adotado pela avó materna, Gabriela Augusta de Resende.
Realizou estudos curriculares na Escola Pública Guido Solero,...