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O Sol de Azar

António Zambujo

O Sol nasce para todos
Más nem todos o enxergam
Quando ele chegou eu já não vi
E na tempestade
Bem no meio dum descampado
O raio vem e acerta sempre em mim

Eu não tenho ouro ou prata
Tenho um monte de baratas
Um copo e uma ressaca sem fim
Estou com um nó na garganta
Más que não é da gravata
É o telhado que já está a dar de si

Ai, só pode ser azar
Maio trouxe-me has chuvas de abril
Logo hoje que tinha um encontro
Apareceu-me uma borbulha pior que acne juvenil

Ai, não tenho mesmo sorte
Deus se estás aí no céu
Porque fiquei sem dinheiro
Levei uma multa e furaram-me um pneu

O Sol é de todos menos meu
Um día de manhã
Eu acordei atrasado
O despertador mais uma vez morreu

A correr saí da cama
Tomei café com laranja
Não preciso dizer no que é que isso deu
Ao cortar uma maçã

Apareceu a minha irmã
Atirei a faca ao ar com a surpresa
Ao vê-la assim no ar
O pé quis desviar
E o mindinho bateu na quina da mesa

Ai, só pode ser azar
Eu nunca fiz mal a ninguém
Só quería passear
Más acabo por pisar
O cocó do cão de alguém

Ai, não tenho mesmo sorte
Más sabem o que aconteceu
Quando cheguei a casa às cinco

A chave partiu no trinco
E a cópia desapareceu
O Sol é de todos menos meu
Tudo o que eu quería
Era ter um día
Uma TV gigante lg
Para ver a bola

Más em vez disso a jola
Caiu-me e estragou-me o pc
No meu aniversário
O cabrão do mário
Deu-me ha bicicleta sem sorrir

Presente envenenado
Más foi dado de bom grado
Então senta o teu rabo aquí por mim

Ai, só pode ser azar
Digam-me que mal é que eu fiz
Para ir assim a correr
Um vidro eu não ver
E partir o nariz

Ai, não tenho mesmo sorte
Ninguém sofre como eu
Parti um farol ao senhorio
E a minha mulher fugiu
Com um amigo meu

O Sol é de todos menos meu
O Sol é de todos menos meu
E a Maria fugiu com um amigo meu
O Sol é de todos menos meu

Composição: António Zambujo





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