Pais, paz nos pais
Numa Belém qualquer
Nesta hora, chora um menino a fio
Vida nascida de vidas sofridas
Unidas na dor do cio
Num beco qualquer
Da era dos astronautas espaciais
Vagam crianças magras
A sina de sempre ser demais
Buscar na poesia consolo, explicação
Para tamanha maldade, cidade
Calvário da dor tropical
Entre o dia e a noite
Temos contrastes sensacionais
Um nasce em berço de ouro
E outro nem conhece os pais
Embaixo de um viaduto
De uma avenida transcendental
Vagando sozinho à noite
A esperança do amanhã
Olhando um quadro de luzes
Vejo um retrato de dores
De um abandono que é social
Jardineiro matando flores
Na madrugada na esquina
Ou correndo num arrastão
Meninos, poetas de rua
Destilam seus versos sem Lua
Com fogo sem fadas, de pé no chão
Na terra de pindorama
Índios não vivem mais
A cultura é estrangeira
E os roubos descomunais
Crianças nascidas
São revendidas para multinaciopais
E se o sorriso não agradar
Jogadas em outros quintais
Na terra de santa cruz
Chacinas são naturais
Crianças roubadas
São transplantadas em euro-hospitais
E se o sorriso não agradar
Jogadas em outros quintais
Que minha prece apresse
O dia eu sei que virá
Pais, paz no país
Que dos filhos destes
Solo és mãe hostil
Candelária, Brasil