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Biografia de Abel Ferreira

Abel Ferreira, instrumentista / compositor, nasceu em Coromandel MG em 15/2/1915 e faleceu no Rio de Janeiro em 13/4/1980. Com cerca de 12 anos começou a aprender música e clarineta com José Ferreira de Resende e Hipácio Gomes, em sua cidade. Aos 17 mudou-se para Belo Horizonte MG e passou a tocar sax alto e tenor, apresentando-se na Rádio Guarani.

Em 1935 foi para São Paulo, ingressando na orquestra de Maurício Cascapera. Em seguida mudou-se para Uberaba MG, onde se tornou diretor artístico da emissora de rádio local. Nessa época participou de um show em Poços de Caldas MG, em que acompanhou as irmãs Carmen e Aurora Miranda.

De volta a Belo Horizonte, tocou em 1937 com J. França e sua Banda. Com o mesmo grupo apresentou-se em São Paulo, em 1940, e mais tarde com Pinheirinho e seu Regional, na Rádio Tupi paulistana. Gravou suas primeiras composições, o choro Chorando baixinho, em solo de clarineta, e a valsa Vânia, em solo de saxofone, em 1942, na Columbia de São Paulo, com o acompanhamento do regional de Pinheirinho.

No ano seguinte mudou-se para o Rio de Janeiro RJ, onde passou a tocar com Ferreira Filho e sua Orquestra, no Cassino da Urca, lançando em 1944 uma nova gravação de suas primeiras composições, dessa vez com Claudionor Cruz e seu Regional. Em 1945 e 1946 tocou, respectivamente, nas orquestras de Vicente Paiva e Benê Nunes, apresentando-se em cassinos e na Rádio Globo.

Com esses conjuntos musicais, e com o seu grupo, formado em 1947, acompanhou vários cantores importantes da época, como Sílvio Caldas, Francisco Alves, Augusto Calheiros, Orlando Silva, Marlene, Emilinha Borba e outros.

Em 1949 ingressou na Rádio Nacional, onde passou a se apresentar como líder da Turma do Sereno; tocou no mesmo ano com Rui Rei e sua Orquestra, gravando na Todamérica seu choro Acariciando (com Lourival Faisal). Com Paulo Tapajós, seu companheiro na Rádio Nacional, formou em 1952 a Escola de Ritmos, que viajou por todo o Brasil.

Viajou em 1957 com seu conjunto em tournée por Portugal e em 1958 integrou o grupo Os Brasileiros, do qual também participavam Shuca, Trio Yrakitan, Dimas, Pernambuco e o maestro Guio de Morais, em excursão de divulgação de música brasileira em vários países europeus, gravando ainda o LP Os brasileiros na Europa. Viajou pelos EUA e Havaí, com o pianista Benê Nunes, em 1960, e pela Argentina com Waldir Azevedo, em 1961.

Voltou à Europa em 1964-1965, gravando nesse último ano o disco Abel Ferreira e sua turma. Visitou a URSS e outros países europeus em 1968. Na década de 1970, principalmente a partir do lançamento do LP Pra seu governo, de Beth Carvalho, na etiqueta Tapecar, tornou-se um dos músicos mais requisitados em gravações e shows, como acompanhante, no sax e na clarineta.

Legítimo herdeiro da categoria do clarinetista Luís Americano, aposentou-se no rádio em 1971, tendo durante esses anos composto vários choros que se incorporaram aos clássicos instrumentais: Doce melodia é um exemplo.

Com a redescoberta do choro e a criação do Clube do Choro, no Rio de Janeiro, em meados de 1975, voltou à atividade, passando a apresentar-se, ao lado de Raul de Barros e Copinha, em vários shows de teatro.

Quando se fala de clarineta, no Brasil, o primeiro nome que aflora à memória costuma ser o de Abel Ferreira. Não só pela ordem alfabética, mas pelo papel fundamental que exerceu na construção de um repertório brasileiro, baseado no choro e na seresta, e na herança deixada por um modo de tocar, profundo e envolvente.

Nascido em 1915, em Coromandel, MG, Abel teve as influências de todo menino de interior: a bandinha do coreto, as eventuais orquestras de baile, o rádio. Através deste conheceu o mestre Luiz Americano e o mágico Pixinguinha, que o levaram a se dividir entre a clarineta e os saxes.

Em 1935 mudou-se para São Paulo, para viver de música. Acompanhou várias orquestras e cantores em excursões pelo Brasil, e em 43 se fixa no Rio de Janeiro, tocando no famoso Cassino da Urca. Músico requisitado, compareceu a centenas de gravações acompanhando nomes famosos como Carmen Miranda, Orlando Silva, Francisco Alves, Emilinha Borba, Marlene e mais uma enorme lista, que alcança contemporâneos como Beth Carvalho ou Chico Buarque de Holanda.

Quando morreu, em 1980, era considerado um mestre maior da clarineta brasileira. Luiz Americano, desaparecido 20 anos antes, havia deixado poucas gravações de boa qualidade, e no final da vida o vigor de seu sopro já não era o mesmo. Abel era soberano, e encantou jovens platéias pelo Brasil todo quando excursionou, junto com Ademilde Fonseca, no Projeto Pixinguinha, em 1976.

Tão importante quanto o intérprete é o Abel compositor. Algumas de suas invenções, muitas vezes transpassadas por uma melancolia que lhes imprime um caráter intimista, tornaram-se clássicos. Acariciando, Doce Melodia, Levanta Poeira, Chorinho do Sovaco de Cobra e, principalmente, Chorando Baixinho, são melodias de tal forma identificadas com a alma musical brasileira que não há quem não se encante ao ouvi-las, pela enésima vez, numa roda de choro.

Abel tem algumas gravações lançadas em CD, onde se encontram diversas versões de seus maiores sucessos. "Brasil, Sax e clarineta" (Marcus Pereira), de 76, tornou-se um de seus trabalhos mais premiados. Há também gravações coletivas antológicas, com Artur Moreira Lima e o Época de Ouro, e o excelente "Chorando na Praça" com Paulo Moura, Copinha, Zé da Velha, Joel Nascimento e Waldyr Azevedo.

Abel Ferreira, mineiro de alma derramada como o luar de sua Coromandel, que homenageou numa valsa, é daqueles transmitem a boa sensação de permanência da música brasileira. Chorando baixinho, para sempre.