Billy Blanco é o nome artístico de William Blanco de Abrunhosa Trindade. Billy pioneiro na transição entre o samba-canção e a Bossa Nova, cantor e compositor paraense, carioca de coração, tem sua obra reafirmada em lançamento da gravadora Biscoito Fino.
São 15 composições do parceiro de Tom Jobim em “Tereza da Praia”, interpretadas pelo autor e por convidados como Leila Pinheiro, Erasmo Carlos e Ney Matogrosso.
A Bossa Nova é ainda hoje o gênero musical brasileiro mais conhecido no exterior, um dos mais influentes de todos os tempos e proveniências.
Vários foram os protagonistas responsáveis pela invenção e pela ascensão do estilo, a partir de 1958, o ano dourado do primeiro campeonato mundial de futebol e do lançamento de “Chega de Saudade”.
Na linha de frente, João Gilberto e Tom Jobim costumam ser citados, respectiva e mutuamente, como o criador e o consagrador da Bossa. Em torno deles, nobres companheiros: Vinícius de Moraes, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Miúcha, Nara Leão, Baden Powell, entre outros.
Mas a história não é feita somente por aqueles em que os holofotes da notoriedade incidem mais diretamente. Se a batida do violão e o modo de cantar de João Gilberto, sintetizados a partir de influências sambistas, baianas e jazzísticas, são as marcas mais explícitas da Bossa Nova, outros artistas deram contribuições cujo valor geralmente destoa da relativa visibilidade que alcançaram. É o caso de Newton Mendonça, compositor injustamente relegado a segundo plano, apesar de assinar clássicos do porte de “Chega de saudade” e “Desafinado” em parceria com Tom Jobim.
Pois bem: situação semelhante acontece com Billy Blanco, parceiro de Jobim em “Tereza da Praia”, a antológica gravação que proporcionou o encontro musical dos “desafetos” Lúcio Alves e Dick Farney. Em uma época em que ambos os cantores tinham fã-clubes que rivalizavam entre si, a composição de Blanco e Jobim foi gravada como um saboroso diálogo, em que se reproduzia a animosidade mais ingênua e bem-humorada que se possa imaginar. “É a minha Tereeeza da Praia...”, cantava Lúcio, ainda com marcantes resquícios do vozeirão samba-canção.
Não por acaso, a principal influência musical de Billy Blanco, citada por ele mesmo, é o feiticeiro da Vila, Noel Rosa, cujos sambas, na voz de Aracy de Almeida, podiam ser ouvidos pelo rádio na maior parte do país. Inclusive em Belém, de onde William Blanco Trindade partiu aos 19 anos, em 1943, rumo a São Paulo, conquistando a benção do pai com o pretexto de cursar Arquitetura no Mackenzie. O verdadeiro intento: fazer sucesso como compositor. E sucesso de fato, naquela época, só em terras cariocas, para onde o jovem se transferiu ao terminar o terceiro ano do curso superior que, após concluído, chegou a lhe render um bom ganha-pão. “Vim para o Rio para ser compositor popular. Mas precisava de um motivo. Meu pai me ajudava a pagar a faculdade e eu tocava à noite nos cabarés”, relembrou o músico, em entrevista por ocasião do lançamento pela Biscoito Fino.
Para Billy Blanco, os anos 50 foram o início do sucesso: seduzidos pelo samba sincopado do paraense, contrastante com o estilo paulista, os Anjos do Inferno gravaram “Pra variar”, em 1951. Já a namorada Dolores Duran gravou “Outono”, lançando-o definitivamente no mundo artístico. “Dolores me abriu as portas. Fui apresentado a tudo quanto era cantor e introduzido no meio. Depois, como a vida anda pra lá e pra cá e o coração também, ela partiu para um novo amor e eu, para novas gatas. E continuamos amicíssimos”. Pode-se dizer que, em comparação a outros compositores de sucesso a partir da década de 50, Billy Blanco teve poucos e bons parceiros musicais. Entre eles, possuía guarida especial o maestro Jobim, de quem foi amigo até a morte.
Sobre a parceria com Antônio Carlos Jobim, o próprio Billy Blanco comenta: “Tom e eu somos de antes da Bossa Nova, de durante a Bossa Nova e de depois da Bossa Nova. Ele participava muito na letra e eu participava muito na música. Nos dávamos muito bem e senti muita emoção quando vi Paulinho (Jobim, filho de Tom) gravando Tereza da Praia com meu filho Bilinho.
Billy Blanco Jr., o referido Bilinho, além de produzir o CD, reencarna no disco, juntamente com Paulo Jobim, o diálogo entre Lúcio Alves e Dick Farney na canção mais que ensolarada. Entre os outros intérpretes presentes no CD, Leila Pinheiro dá uma voz de suíngue contagiante a “Banca do Distinto”. Na mesma estirpe, Olivia Hime comparece com “Viva meu samba”, fazendo da tristeza um carnaval de beleza. E Lucinha Lins ganhou de presente “Praça Mauá”, bela canção que, composta em 1951, já abordava os efeitos da desigual urbanidade carioca. “Praça da saudade, do adeus, da emoção”.
Erasmo Carlos canta com estilo a ironia de “Mocinho bonito”, uma sátira aos falsos malandros de Copacabana. Ney Matogrosso exagera de sentimento em “Esperança perdida”, a mais melancólica do disco, fruto da parceria Blanco-Jobim, já gravada em 1970 por João Gilberto. Completam o time de convidados Pery Ribeiro (“Encontro com a saudade”, parceria com Nilo Queirós) e Anna Lemgruber (“Desencanto”, Billy e Sebastião Tapajós).
Mas o naco melhor desse banquete musical são as canções interpretadas pelo próprio Billy Blanco. A começar pela faixa inicial do CD, a inspiradíssima bossa “Rio do meu amor”, perfeita exaltação à terra de São Sebastião, em melodia e poesia. Impossível não cantar junto.
Há tempo ainda para a ecológica “O boto falou”, com direito a coro infantil formado pelos netos do compositor, a inédita “Olho de fogo” e o clássico
“Samba Triste”, irretocável parceria com o já falecido violonista Baden Powell, canção com um sem-número de gravações no exterior. Uma interpretação cativante que, por si, seria suficiente para justificar o disco.
William Blanco Abrunhosa Trindade nasceu em Belém do Pará no dia 8 de maio de 1924. Willian é um arquiteto, músico, compositor e escritor brasileiro, seu samba sincopado que fugia da cadência vigente do estilo passou a chamar a atenção dos cantores da época.
A carreira de compositor deslanchou nos anos 50, quando suas músicas foram gravadas por Dick Farney, Os Cariocas e Dóris Monteiro, além do já mencionados. Na década de 60, Billy participou de festivais e espetáculos, nos quais começaram a vir a público seus sambas em estilo de crítica sócio-comportamental.
Billy gravou sete discos de carreira e o mais recente deles, O Autor e Sua Música, foi lançado em 1996. Em 2002, a BF lançou A Bossa de Billy Blanco.
Atraído pela música desde criança, quando começou a compor tinha o cuidado ao escrever seus sambas, com letras elaboradas, assuntos e composições das canções.
Nos anos de 1940, quando cursava o segundo ano de engenharia, foi para São Paulo, para fazer o curso de arquitetura, ingressou no Mackenzie College em 1946. Foi para o Rio de Janeiro, e estudou na Faculdade de Arquitetura e Belas Artes, em 1948. Graduando-se em 1950, em arquitetura.
Tem um estilo próprio, descrevendo os acontecimentos a sua volta, com humor ou no gênero exaltação, falando de amor e das desilusões; onde seu samba sincopado, que fugia da cadência vigente do estilo , passou a chamar à atenção dos cantores da época. Sua primeira composição foi Pra Variar em 1951.
Nos anos 50 e 60 seus sucessos foram gravados por Dick Farney, Lúcio Alves, João Gilberto, Dolores Duran, Sílvio Caldas, Nora Ney, Jamelão, Elizeth Cardoso, Dóris Monteiro, Os Cariocas, Pery Ribeiro, Miltinho, Elis Regina e Hebe Camargo. Seu primeiro sucesso foi Estatutos da Gafieira, na voz de Inesita Barroso - gravação RCA Victor - 1954.
Parceiros
Baden Powell - Samba triste
Tom Jobim - Sinfonia do Rio de Janeiro - Suíte Popular em ritmo de samba - 1960.
João Gilberto - Descendo o morro. A montanha/O morro - onde os dois doutores do asfalto, homenageiam o samba de gente simples e de favela.
Cinquenta e seis parcerias com o violonista Sebastião Tapajós e com outros compositores, num total de quinhentas músicas, sendo que trezentas já gravadas.
Sucessos consagrados
Sinfonia Paulistana, Tereza da praia, O morro, Estatuto da gafieira, Mocinho bonito, Samba triste, Viva meu samba, Samba de morro, Pra variar, Sinfonia do Rio de Janeiro, Canto Livre.
Sinfonia do Rio de Janeiro
É composta por dez canções, escritas em parceria com Tom Jobim, em 1960. As canções são Hino ao Sol, Coisas do dia, Matei-me no trabalho, Zona sul, Arpoador, Noites do Rio, A montanha, O morro, Descendo o morro e o Samba do amanhã.
Sinfonia Paulistana
(Retrato de uma cidade)
Foi concluída em 1974. Billy Blanco trabalhou nela durante dez anos. É composta por quinze canções, cantadas por Elza Soares, Pery Ribeiro, Cláudia, Claudette Soares, Nadinho da Ilha, Miltinho, coro do Teatro Municipal de São Paulo. Produção de Aloysio de Oliveira e orquestra regida pelo maestro Chico de Moraes.
As músicas se chamam Louvação de Anchieta, Bartira, Monções, Tema de São Paulo, Capital do tempo, O dinheiro, Coisas da noite, O céu de São Paulo, Amanhecendo, O tempo e a hora, Viva o camelô, Pro esporte, São Paulo jovem, Rua Augusta e Grande São Paulo.
Destacando-se o carimbó épico Monções, e a original fusão bossa-pop em O tempo e a hora.
Canto Livre
Escrito na época da Ditadura Brasileira, Billy Blanco compôs essa música assim que saiu de sua emporada no Forte de Copacabana.
O meu compromisso; com sinceridade; é fazer meu povo; sorrir outra vez; e melhor que isso; só se for verdade; No mais, tanto faz; como tanto fez;
Canta!; Sempre serás feliz quando cantares.; e dentre as coisas pelas quais lutares,; o canto puro e simples não esquece,; numa prisão, na irgreja ou na rua,; uma canção tem força de uma prece,; não haverá no mundo quem destrua,; morre um cantor e o canto permanece.;
Canta!; Mesmo cativo, o pássaro não liga; prendem o seu corpo, não sua cantiga,; seu canto é livre, livre como o vento; e um cantor não para, só morrendo; mas a canção revive sua memória; e ele renasce a caa momento; porque seu canto faz parte da História;
Livros escritos
(em parceria)
MACEDO, Regina Helena - Tirando de Letra e Música - Editora Record - 1996 - 224págs. - ISBN: 8501043397
MACEDO, Regina Helena - Florentino Dias: uma vida dedicada a música - Editora Record - 96 págs. - ISBN: 8501056529
Billy é a linha viva que dividiu (e divide) o samba canção, das vozes altas e letras tristes, da bossa nova. Poeta de um tempo glorioso, mas não perdido ou esquecido como preferem alguns, Billy Blanco está na ativa produzindo (85 anos), o que muitos na casa dos áureos 30 anos não conseguem sequer tentar. Compõe todo dia e quer mais.
Billy Blanco gosta de manter certas diretrizes em mente na hora de compor. "Ao escrever, pretendo que as canções sejam cantadas por qualquer pessoa em qualquer tempo. Não componho especificamente para uma só voz ou para um só tom. Quero que minhas canções signifiquem algo em qualquer tempo, sem ser saudosista. Música é para unir gerações, contar histórias das velhas para as novas", diz Billy.
"Estava acabando agora mesmo uma canção. E amanhã rasgo, jogo fora e faço tudo de novo. É como ginástica, aeróbica, essas coisas. O compositor, assim como qualquer instrumentista (um violonista, por exemplo), precisa trabalhar todo dia, colocar seu ofício em dia", diz Billy, com simplicidade. Ele também sabe que, para os padrões atuais, seu ritmo de produção é espantoso.
"Eu duvido que exista um compositor na minha idade produzindo do jeito que produzo. Como disse, componho todos os dias, e não é porque tenho que compor para sobreviver. Eu sobrevivo para compor. E faço isso exatamente como fazia há 60 anos. É minha necessidade e meu papel no mundo", diz.